Provérbios 19 — Análise Bíblica

Provérbios 19

19:1-29 O capítulo começa com uma comparação [Melhor... do que) entre o pobre e o perverso tolo (19:1). A primeira linha do provérbio é repetida em 28:6, em que a comparação envolve o rico. Ao juntar a mensagem dos dois provérbios, temos: Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso nos seus caminhos, ainda que seja rico, e do que o perverso de lábios e tolo. De nada adianta proceder sem refletir; quem age de modo impensado é como o motorista que, em sua pressa, erra o caminho e demora mais a chegar (19:2). Não é raro tomarmos atitudes impensadas e irrefletidas e desperdiçamos energia. Deparamo-nos com dificuldades devido à nossa própria insensatez e depois culpamos Deus pelos problemas (19:3). Os provérbios seguintes tratam de amizade e veracidade. Devemos considerar 19:4 de acordo com o que já foi dito acerca do rico e do pobre no contexto imediato (cf. 19:6-7; tb. 18:23-24). O texto de 19:5 é repetido quase nas mesmas palavras em 19:9. Os castigos que sobrevêm à falsa testemunha e ao mentiroso são reiterados em várias ocasiões em Provérbios. Há quem conte muitas menthas para adular ao generoso (ou “ao governante”, NVI, ou “ao príncipe”, RC) e obter seu favor (19:6).

Sem dúvida, trata-se de alguém que dá presentes, uma questão discutida em detalhes em 18:16. Existe, porém, claro contraste na atitude em relação ao pobre que é desprezado por seus parentes e não tem amigos (19:7). Sua situação é semelhante àquela descrita em 19:4 (para mais comentários cf. 14:20). Observe que se trata de um provérbio incomum, pois apresenta mais de duas linhas. Em 19:8, temos um provérbio sinônimo: O que adquire entendimento corresponde àquele que conserva a inteligência. Ama a sua alma é paralelo a acha o bem. Com referência a 19:9, ver o comentário sobre 19:5. Encontramos outra comparação com quanto menos em 19:10. Ao insensato não convém a vida regalada, porque ele não a merece. Mas o versículo prossegue: Quanto menos ao escravo dominar os príncipes! Trata-se de mais um caso daquilo que Kidner chama de “absurdos desconcertantes” (TOT). Ross comenta acerca do versículo como um todo: “Nestas inversões, o insensato evidenciaria ainda mais suas qualidades negativas — grosseria, insensibilidade e falta de disciplina — e o escravo se tomaria arrogante e cmel” (EBC). Observamos conceitos semelhantes em 11:22; 17:7; 26:1; 30:21-23. Pode parecer estranho uma virtude como a longanimidade ser descrita como glória em 19:11. De acordo com Kidner, este provérbio “destaca as cores radiantes de uma virtude que, na prática, pode parecer apenas insípida falta de assertividade” (TOT). A virtude oposta é a raiva, tema de 19:12, que reitera de forma sucinta a ideia de 16:14-15.


Um paralelo entre o filho insensato e as contenções da esposa é traçado em 19:13. O primeiro é a desgraça do pai, e as últimas são tão irritantes quanto um gotejar contínuo (cf. tb. 27:15). Que contraste com a esposa prudente mencionada em 19:14! De fato, ela é uma bênção (ou benevolência) do Senhor, como diz 18:22. A preguiça traz não apenas um pouco de sono (6:10), mas profundo sono (19:15), e, portanto, as coisas vão de mal a pior. O resultado inevitável éfome. Obediência e desobediência são questões de vida ou morte, como mostram vários provérbios (19:16). Uma das áreas que requerem obediência é o relacionamento com os pobres. Quem usa de bondade para com eles não apenas honra a Deus (14:31), mas também ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício (19:17; cf. Mt 25:31-40). Apesar de ser importante disciplinar o filho enquanto há esperança, os pais não devem se exceder a ponto de matá-lo (19:18). Por vezes, a fim de disciplinar uma pessoa, é preciso distanciar-se e permitir que ela sofra as consequências de seus atos.

Essa é a ideia de 19:19, uma advertência para não tentar consertar as confusões provocadas por alguém que não consegue controlar seu próprio gênio. É quase certo que esse indivíduo perderá a calma outra vez, de modo que, se tu o livrares, virás ainda afazê-lo de novo. Se deixá-lo sofrer as consequências de seus atos, é possível que aprenda a lição e mude de atitude. Uma vez que é melhor evitar medidas tão drásticas, o provérbio enfatiza a importância de dar ouvidos à instrução e os benefícios decorrentes da obediência (19:20). O ditado popular “o homem propõe, Deus dispõe” resume o teor de 19:21 (cf. tb. 16:1,9). O versículo seguinte trata do valor do amor leal, traduzido por misericórdia na RA e como “amor perene” na NVI ou “constante” na RC (19:22). É melhor ser pobre e desfrutar afeto verdadeiro do que fazer falsas declarações de amor e ver-se cercado de pessoas nas quais não se pode confiar. O termo traduzido por “misericórdia” é o mesmo usado em outras passagens para descrever a fidelidade do Senhor ao seu povo na alian­ ça. A mesma fidelidade e honestidade devem caracterizar os relacionamentos interpessoais (cf. tb. 19:1). Para expandir a ideia da bênção de vida resultante do temor do Senhor, a segunda linha de 19:23 a descreve como um estado no qual o indivíduo abençoado ficará satisfeito, e mal nenhum o visitará. Existe, porém, uma diferença entre esse contentamento e a inércia do indolente, descrita num provérbio espirituoso que retrata alguém preguiçoso demais até para levar a comida à boca (19:24).


Apesar de 19:25 parecer antitético, é possível que não seja, especialmente se focalizarmos os resultados das duas linhas em vez do suposto contraste entre ferires ao escarnecedor e repreende ao sábio. A disciplina física do escarnecedor não visa beneficiá-lo, mas, sim, ensinar outros a não cometer as mesmas tolices que tomaram a disciplina necessária. Semelhantemente, a repreensão do sábio traz um resultado positivo: Crescerá em conhecimento (cf. tb. 21:11). A situação descrita em 19:26 é contrária não apenas ao ensino dos sábios, mas também ao quinto mandamento (Êx 20:12; Dt 5:16). Não é de surpreender, portanto, que 19:27 seja dirigido ao filho meu, exceto pelo fato de que, ao contrário dos capítulos 1 a 9, o autor raramente se dirige ao filho nos capítulos 10 a 22. O provérbio também é incomum porque, em vez da exortação para ouvir, começa com se deixas de ouvir. Depois de chamar a atenção do jovem com essa inesperada variação, o sábio apresenta a argumentação habitual: como resultado de não dar ouvidos à instrução, o jovem se desviará das palavras do conhecimento. Em 19:28, temos mais um provérbio sinônimo: a testemunha de Belial é paralela à boca dos perversos, enquanto escarnece da justiça corresponde a devora a iniquidade. As consequências desse comportamento zombeteiro são dadas em 19:29: Preparados estão os juízos para os escarnecedores e os açoites, para as costas dos insensatos.

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