Provérbios 4 — Análise Bíblica

Provérbios 4

Provérbios 4 serve como uma exortação paternal para buscar e valorizar a sabedoria acima de tudo. Ele enfatiza o contraste entre os caminhos dos justos e dos ímpios, exortando os leitores a escolherem o caminho da sabedoria e da retidão. O capítulo também destaca a importância de guardar o coração, seguir instruções sábias e discernir entre o bem e o mal. No geral, reforça o tema do livro, que é a busca pela sabedoria e uma vida justa.

Análise

4:1-4 Essa é uma das poucas passagens em Provérbios que se dirige aos filhos (4:1). Na primeira seção (4:1-9) desse discurso, o mestre recorda aquilo que seus pais lhe ensinaram. Ao ligar três gerações, ressalta o fato de estar transmitindo algo que ele próprio recebeu. Atkinson comenta: “Este parágrafo curto, porém rico, gira em tomo da questão central de que, no processo de educação, aprendemos mais com aqueles que se encontram ao nosso redor, especialmente os membros de nossa família. O pai (4:1), que aprendeu com seus pais (4:3), agora transmite a sabedoria aos seus filhos (4:1)” (BST). A passagem também mostra de forma vivida uma família israelita seguindo as instruções de Deuteronômio 6:7. Essa maneira ideal de transmitir sabedoria às gerações mais jovens se encaixa no contexto africano, especialmente quando a família mais ampla se encontra preservada. A desintegração provocada pela modernidade e o surgimento da família nuclear, porém, tornam necessário às famílias cristãs africanas reavaliar seus princípios. Temos encarado o desafio de instruir nossos pequeninos e jovens nos caminhos do Senhor, ou delegamos essa tremenda responsabilidade às igrejas ou mesmo às instituições de ensino? Nessa passagem, o pai sábio admoesta seus filhos: Ouvi [...] a instrução do pai [...] para conhecerdes o entendimento (4:1). Uma vez que recebeu e se apropriou dessa instrução para si mesmo, o pai fala com autoridade e segurança: Porque vos dou boa doutrina; não deixeis o meu ensino (4:2). As gerações e os ensinamentos parecem sobrepor-se. O pai se dirige inicialmente aos seus filhos (4:1), mas no decorrer do discurso passa a falar ao seu filho (4:10,20), talvez concentrando sua atenção no filho mais velho. Assim como não há indicação de mudança do público-alvo de vários filhos para apenas um filho, também não há nenhuma indicação de onde termina o ensinamento de seu pai e começa o seu próprio. A ênfase é sobre o fato de que o pai não cria ensinamentos novos, mas apenas transmite a tradição que recebeu. A educação que se reflete nesses capítulos deve ser entendida, principalmente, em seu contexto israelita no que diz respeito não apenas ao formato, mas também ao conteúdo.

4:5-9 O pai começa com a instrução para o filho buscar sabedoria: Adquire a sabedoria, adquire o entendimento e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes (4:5). Quando recebê-la, não deve abandoná-la, pois ela o guardará; deve amá-la, e ela o protegerá (4:6). Passagens anteriores mostram que o único refúgio seguro na vida é a busca incessante por sabedoria. Os versículos seguintes explicam melhor: O princípio da sabedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento (4:7). Como vimos no discurso do capítulo 3, o valor da sabedoria é incalculável (3:13-18). Estima-a, e ela te exaltará; se a abraçares, ela te honrará (4:8). De fato, conforme 1:9 indica, ela dará à tua cabeça um diadema de graça e uma coroa de glória te entregará (4:9). Aquele que possui sabedoria divina é reconhecido até mesmo pela sociedade secular por sua dignidade e honra. Os ovimbundu de Angola, cujo provérbio citamos anteriormente, acreditam não apenas que Deus é a fonte de toda sabedoria, mas também que a sabedoria é inestimável. Valorizam-na acima de toda beleza e força e consideram-na um bem extremamente precioso.

4:10-19 Mais uma vez, o pai admoesta: Ouve, filho meu. Em seguida, apresenta dois modos de vida: o caminho da retidão e o da perversidade. O aprendiz pode amadurecer em segurança ao escolher o primeiro e rejeitar o segundo. Se fizer a escolha certa, se te multiplicarão os anos de vida (4:10). Primeiro, o mestre apresenta a opção que proporciona vida: No caminho da sabedoria, te ensinei e pelas veredas da retidão te fiz andar (4:11). Promete ao discípulo que, em andando por elas, não se embaraçarão os teus passos; se correres, não tropeçarás (4:12). O caminho do discípulo não terá armadilhas ocultas ou obstáculos, como o outro caminho, pois ele será conduzido “pelas veredas da retidão”. Daí, a exortação adicional do pai antes de descrever o caminho dos perversos: Retém a instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida (4:13). O aprendiz é advertido acerca da escolha incorreta: Não entres na vereda dos perversos, nem sigas pelo caminho dos maus (4:14). Ele não deve nem sequer cogitar esse caminho e, muito menos, andar por ele: Evita-o; não passes por ele; desvia-te dele e passa de largo (4:15). Na sequência, o mestre fala de um estilo de vida com valores invertidos: Pois não dormem, se não fizerem mal, e foge deles o sono, se não fizerem tropeçar alguém (4:16). Quanta depravação! A advertência continua: Porque comem o pão da impiedade e bebem o vinho das violências (4:17). A frase pode indicar que a “impiedade” e as “violências” são o pão de cada dia dos perversos, ou pode mostrar que obtêm seu sustento por meio delas. Mais uma vez, lembramos a violência cada vez maior que as gangues espalham por nossos centros urbanos. O que deu errado em nossas sociedades? Está cada vez mais difícil viver uma vida decente e segura, não apenas aqui na África, mas até mesmo nos países com mais riquezas e poderio militar, pois a humanidade deu as costas para o plano perfeito de Deus. Eis um desafio monumental para a igreja! O pai conclui com um resumo que se aplica ao discurso todo e no qual contrasta o destino final dos dois caminhos: Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. O caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam (4:18-19). Vemos aqui um contraste “entre perigo e confusão constantes e segurança e certeza crescentes” (TOT).

4:20-27 A seção final traz outra série de exortações e promessas. Depois de novamente aconselhar o discípulo a dar ouvidos às suas instruções e lembrá-lo dos benefícios da obediência (4:20-22), o mestre diz: Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida (4:23). Nos versículos anteriores, o mestre explicou como fazê-lo, a saber, guardando as palavras do sábio no mais íntimo do coração (4:21). Sua orientação concorda com a do salmista: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra” (Sl 119:9) e “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl 119:11). Desvia de ti a falsidade da boca e afasta de ti a perversidade dos lábios (4:24), diz o mestre, e admoesta o aprendiz a concentrar-se no rumo que deve seguir: Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti (4:25). O segredo é focalizar com determinação o caminho que conduz à vida eterna. Apesar de já haver recebido a promessa de que será conduzido por veredas de retidão (4:11), o discípulo deve cooperar: Pondera as veredas dos teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos (4:26) . Ademais, os olhos do discípulo devem estar sempre voltados firmemente para o céu. O lema é: “Não se distrai nem se desvie!” (4:27). Encontramos o mesmo princípio no provérbio zaonde (Zâmbia) que aconselha o líder a manter o foco: “Quem entra no matagal não deve preocupar-se com os mídos que ouve ao seu redor”. Em outras palavras, não deve permitir que as queixas ou críticas de outros se tornem empecilhos para o seu trabalho.

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