Provérbios 30 — Análise Bíblica

Provérbios 30

Provérbios 30, atribuído a Agur, filho de Jakeh, oferece uma perspectiva única sobre a sabedoria e a vida. Começa com humildade, uma oração por moderação na riqueza material e observações do mundo natural. O capítulo também enfatiza os caminhos misteriosos de Deus e alerta contra as características destrutivas da arrogância e da ganância. Além disso, ressalta a importância de um discurso cuidadoso e ponderado. Ao longo do capítulo, há um tema abrangente de reconhecer as limitações humanas e buscar a sabedoria de Deus.

30:1-33 Palavras de Agur, filho de Jaque Depois do versículo de introdução, que cita o nome do autor e seu público-alvo, o capítulo pode ser divido em duas seções: as reflexões de Agur acerca do conhecimento de Deus, da palavra, graça e providência divinas (30:2-9) e suas reflexões sobre a criação, obra das mãos de Deus (30:10-33).

30:1-9 Reflexões acerca do conhecimento de Deus

De acordo com 30:1, o autor das palavras a seguir é Agur, filho de Jaque (cf. tb. 31:1). Massá pode ser o nome do lugar ou da tribo de origem de Agur (e do rei Lemuel em 31:1). Um povo ismaelita do norte da Arábia era conhecido por esse nome (Gn 25:13-14; lCr 1:30). Farmer comenta: “Uma vez que Ismael era o filho primogênito de Abraão, os sá­bios de Israel talvez reconhecessem certo parentesco com o povo de Massá” (ITC). Dispuseram-se, portanto, a incluir no livro de Provérbios as palavras de duas pessoas que provavelmente não eram israelitas, a saber, Agur e Lemuel. Embora não sejam mencionados pela RA na abertura do capítulo, “Itiel” e “Ucal”, que também parecem ser nomes de pessoas, são citados na NVI e na RC. Em 30:2-3, Agur começa a reconhecer humildemente sua ignorância, em especial no tocante ao conhecimento de Deus. Kidner comenta que Agur é “incomumente cônscio de sua inadequação para especular sobre Deus” (TOT). Em seguida, Agur afirma a impossibilidade de conhecer a Deus sem revelação (30:4-6).

Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas na sua roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho, se é que o sabes? (30:4). As palavras finais “se é que o sabes” são uma forma sarcástica de acabar com as asserções humanas de conhecimento, especialmente conhecimento de Deus. A referência a “seu nome, e [...] o nome de seu filho” é curiosa. No contexto imediato, o filho é Israel (cf. Êx 4:22; Os 11:1), mas ã luz da revelação focalizada nessa passagem, o “filho” é, em última análise, uma referência a Jesus Cristo (Mt 2:14-15; cf. tb. Sl 2). Temos aqui, portanto, “um prenúncio sutil da revelação plena do Novo Testamento” (EBC). Depois da série de perguntas, Agur continua: Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam (30:5-6). Conclui essa parte do capítulo com uma oração na qual confessa sua dependência total da graça e providência de Deus. Começa com: Duas coisas te peço (30:7), uma introdução que nos prepara para os ditos numéricos do restante do capítulo. O pedido feito em 30:8-9 é típico do equilíbrio retratado nos ensinamentos dos sábios ao reconhecer as tentações específicas tanto das riquezas quanto da pobreza.

30:10-33 Reflexões acerca da criação

No restante do capítulo, encontramos vários grupos de ditos com listas de quatro elementos: 30:11-14,15-16,18- 19,21-23,24-28 e 29-31. O primeiro conjunto, 30:11-14, é diferente dos outros, pois não menciona números de forma específica, mas todos os outros começam com há três coisas [...] sim, quatro, com exceção do último conjunto, 30:24-28, que começa diretamente com há quatro coisas. (Pode-se observar um padrão semelhante em 6:16-19.) Os ditos numéricos independentes são intercalados com outros provérbios curtos (30:10,17,20,32-33). O provérbio curto em 30:10 possui alguma relação com a palavra subsequente sobre arrogância em 30:11-14. Kidner explica a ligação da seguinte maneira: “Encontra-se, apropriadamente, entre a oração de 30:7-9 e as descrições de 30:11-14, pois a arrogância (30:11) gera opressão (30:14), enquanto o temor de Deus (30:7-9) produz respeito pelos fracos. Se o servo for inocente, sua maldição terá efeito (cf. tb. 26:2), pois há um Juiz” (TOT).

Os ditos numéricos em 30:156-16 são antecedidos de um provérbio curto sobre a sanguessuga e suas duas filhas: Dá, Dá (30:15a). É possível que a sanguessuga e suas gê­meas sejam ligadas aos ditos numéricos pela ideia de desejo insaciável. A advertência severa 30:17 menciona o pai e a mãe e pode ser relacionada aos cruéis e arrogantes de 30:11-14. O texto em 30:18-19 trata de quatro coisas que causam espanto e perplexidade no mestre sábio. Se, como parece ser o caso em 6:16-19, a tônica da lição nos ditos numéricos recai sobre o último item da lista, então o que causa maior admiração a Agur é o caminho do homem com uma donzela. Mas, se o homem pode manipular a mulher, não é de admirar que a recíproca seja verdadeira.

O dito é seguido, portanto, de um comentário sucinto sobre a adúltera que nega tranquilamente ter feito algo de errado (30:20). As quatro coisas sob as quais estremece a terra e não pode subsistir são: o servo quando se torna rei; [...] o insensato quando anda farto de pão; [...] a mulher desdenhada quando se casa; [...] a serva quando se torna herdeira da sua senhora (30:21-23). Tais situações são terríveis, pois “não convém” (cf. 19:10), e as pessoas em questão certamente abusarão de seu novo papel. As quatro coisas seguintes são mui pequenas [...], porém [...] mais sábias que os sábios e, portanto, têm algo a nos ensinar se nos mostrarmos humildes (30:24-28). Com as minúsculas formigas, podemos aprender sobre a necessidade de trabalhar e armazenar suprimentos em tempos de abundância a fim de termos uma reserva em ocasiões de escassez (30:25; cf. tb. 6:6-8).

Os arganazes (ou “coelhos”, RC e NVI) reconhecem que são fracos e, portanto, procuram um lugar forte e seguro onde morar (30:26). Sozinhos, os gafanhotos são fracos, mas, quando se reúnem em bandos numerosos como um exército, são capazes de devastar regiões extensas (30:27). A pequenez do geco (ou “lagartixa”, RC e NVI) não é empecilho para entrar sem cerimônia na casa dos poderosos (30:28). As últimas quatro coisas têm passo elegante, ou andam airosamente (30:29-31). É possível, contudo, que haja aqui uma lembrança sutil “da tênue linha entre imponência e arrogância, na escolha de pelo menos um dos companheiros do rei quanto ao seu modo de andar” (TOT). A ideia continua em 30:32, em que a exaltação própria é destacada como sinônimo de insensatez. Pôr a mão na boca pode ser uma tentativa de calar a si mesmo ou um gesto de vergonha por algo que já foi dito ou feito. Se a insensatez manifestada na exaltação própria não é contida ou não há arrependimento, resulta em contenda (30:33). Ao comentar sobre esse capítulo como um todo, Kidner afirma que poderia servir de exemplo para um artista ou jornalista; “Além de nos incentivar a manter um forte interesse pelos seres vivos de todas as formas e tamanhos, combina a curiosidade insaciável com profunda humildade diante do mistério e ênfase clara sobre os valores que nos foram revelados” (TOT)

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