Provérbios 17 — Análise Bíblica
Provérbios 17
17:1-28 Apesar de haver ligeira mudança de vocabulário, a comparação em 17:1 não é inédita (cf. tb. 15:16-17; 16:8). O texto de 17:2 aponta para a inversão de privilégios que pode resultar da sabedoria ou da insensatez. O escravo prudente governa sobre o filho que causa vergonha e tem parte na herança como se fosse um dos irmãos, enquanto o filho cuja conduta é vergonhosa será desconsiderado e deserdado. O fogo prova a pureza dos metais, neste caso do ouro e da prata. O Senhor, porém, prova aos corações (17:3). A provação é construtiva, e não destrutiva. Enquanto o Senhor se preocupa com a pureza e a verdade, não se pode dizer o mesmo do malfazejo descrito de maneira semelhante ao mentiroso (17:4). Além de usar a língua para mentir, o perverso também escarnece do pobre (17:5). A primeira linha deste provérbio é semelhante a 14:31. Na segunda linha, a satisfação com a desgraça alheia pode ser outra manifestação do escárnio, se considerarmos calamidade uma referência à penúria do pobre. Quem proceder desse modo não ficará impune. Como os cabelos grisalhos (16:31), os netos também são coroa dos velhos (17:6). De acordo com 17:7, se é um disparate o insensato dizer coisas excelentes, é ainda mais inapropriado o governante proferir mentiras. A corrupção do poder também aparece em 17:8, em que o suborno é descrito como uma pedra mágica (ou, como diríamos hoje em dia, uma “vara de condão”) para quem paga: Para onde quer que se volte terá seu proveito. Uma vez que não se trata da única observação dos sábios acerca do suborno, deve ser comparada com 17:15,23; 15:27.O provérbio antitético em 17:9 explica como é possível fortalecer ou destruir o amor e as amizades. A pessoa na primeira linha promove o amor ao encobrir uma transgressão; a outra separa os maiores amigos ao trazer o assunto à baila, ou seja, ao falar da transgressão mencionada na primeira linha (cf. tb. 16:28). Os versículos seguintes enfatizam a incorrigibilidade dos insensatos. Enquanto o prudente é sensível à mera repreensão, o insensato é capaz de ignorar até cem açoites, ou seja, uma surra severa (17:10). No final das contas, porém, o perverso não ficará impune (17:11). O risco que o insensato representa é descrito com uma imagem vivida. Pode-se imaginar que não há nada mais perigoso do que encontrar um animal selvagem que foi separado de seus filhotes, mas o mestre sábio diz: Melhor é encontrar-se uma ursa roubada dos filhos do que o insensato na sua estultícia (17:12). Os provérbios subsequentes tratam de atos perversos específicos: 17:13 aplica ao ingrato o princípio de colher aquilo que se semeou, enquanto 17:14 aconselha a não abrir as comportas da discórdia. A perversão da justiça é outra coisa abominável ao Senhor (17:15). Em 17:16, encontramos uma pergunta retórica. O provérbio não sugere que a sabedoria pode ser comprada com dinheiro. Mesmo que pudesse, porém, o insensato não se daria ao trabalho de adquiri-la, pois não reconhece seu valor! O provérbio sinônimo em 17:17 mostra como o amor de um amigo verdadeiro é constante e como os laços de família se tomam mais significativos em momentos de dificuldade. Com referência a 17:18, ver os comentários sobre 6:1-5.
A primeira linha de 17:19 é clara, mas qual é o significado da segunda linha? A construção de uma porta (ou portão) alta, algo aparentemente contrário às normas sociais, talvez reflita os problemas da pessoa briguenta com seus vizinhos. Kidner inclui este provérbio numa seção chamada “À procura de encrenca” e comenta: “A arrogância para com Deus e para com os homens tem o seu preço” (TOT). O texto de 17:20 trata do homem perverso de coração e daquele que tem a língua dobre. Assim como o primeiro jamais achará o bem, o último vem a cair no mal. As consequências da insensatez explicam a tristeza ou falta de alegria experimentada pelo pai do estulto (17:21), que contrasta com o coração alegre mencionado em 17:22 (cf. 15:13,15,30) Os provérbios seguintes repetem ideias desenvolvidas em passagens anteriores. Mais uma vez, o suborno desvia o curso da justiça (17:23). No provérbio antitético de 17:24, o olhar firme do sábio é contrastado com o movimento dos olhos do insensato. A ideia de 17:21 é repetida em 17:25, que acrescenta, porém, a tristeza da mãe. Outra manifestação de injustiça é mencionada em 17:26. A partícula do hebraico que pode ser traduzida por “também” ou “até” não aparece na RA, mas está incluída na RC: “Não é bom também punir o justo”. O capítulo termina com dois provérbios acerca da fala: 17:27 é um provérbio sinônimo no qual quem retém as palavras é equiparado ao sereno de espírito. O primeiro possui o conhecimento tanto quanto o último é homem de inteligência. Se um insensato conseguir imitar essas virtudes, outros podem até pensar que ele é sábio (17:28).
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