Provérbios 14 — Análise Bíblica

Provérbios 14

Provérbios 14 fornece sabedoria prática sobre vários aspectos de uma vida justa, sabedoria e as consequências das ações de alguém. Enfatiza a importância do temor do Senhor, do discernimento, da compaixão, da prudência e do impacto das palavras e do comportamento. O capítulo contrasta consistentemente os resultados da sabedoria e da loucura e incentiva os leitores a seguir uma vida caracterizada pela sabedoria e pelo comportamento virtuoso.

Análise

14:1-35 O capítulo começa com um contraste entre a mulher sábia a e insensata (14:1) (o original hebraico traz o plural “mulheres sábias”). A primeira edifica a sua casa, como a mulher sábia por excelência no capítulo 31. A segunda com as próprias mãos a derriba. Este versículo nos lembra as palavras de 9:1: “A Sabedoria edificou a sua casa”. Em 14:2, encontramos o contraste entre o homem que anda na retidão e aquele que anda em caminhos tortuosos quanto à sua atitude em relação ao Senhor: um teme ao Senhor, enquanto o outro o despreza. Já 14:3 declara: Está na boca do insensato a vara para a sua própria soberba, mas os lábios do prudente o preservarão. A expressão “a vara para a sua própria soberba” pode indicar que as palavras arrogantes do insensato o levam a ser castigado. A mensagem de 14:4 também não é explícita. A ausência de bois e o celeiro limpo na primeira linha podem indicar que o agricultor não tem o trabalho de cuidar dos animais. A segunda linha o lembra, porém, que pela força do boi há abundância de colheitas. O autor diz ao agricultor que vale a pena manter animais em sua propriedade para ajudá-lo na lavoura e prover o sustento de sua família. Todos os provérbios subsequentes se referem, de algum modo, ao conhecimento. O contraste entre a testemunha verdadeira e a falsa em 14:5 traz à memória 12:17. Quem se interessa apenas em escarnecer dos outros, procura a sabedoria e não a encontra, mas quem usa de discernimento descobre que o conhecimento vem facilmente (14:6).

Na sequência, o autor aconselha o leitor: Foge da presença do homem insensato, porque nele não divisarás lábios de conhecimento (14:7), provérbio sintético que interrompe a série de provérbios antitéticos, pois fornece na segunda linha o motivo para o conselho da primeira. O tema do conhecimento e discernimento também está por trás do contraste em 14:8. Enquanto a sabedoria do prudente lhe permite refletir seriamente sobre o seu próprio caminho, ou seja, sobre sua conduta ou comportamento, a estultícia dos insensatos é enganadora, “não apenas fica aquém da verdade, mas também a evita” (TOT). O versículo seguinte desenvolve esse conceito: Os loucos zombam do pecado, mas entre os retos há boa vontade (14:9). Além de serem incorrigíveis, os insensatos zombam até da ideia de reconhecerem seus erros, enquanto os justos estão sempre abertos para a correção. Ross articula a mensagem de 14:10 de forma contundente: “Existem alegrias e tristezas que não podem ser compartilhadas” (EBC). Somente quem experimenta sentimentos profundos de amargura ou alegria pode entendê-los de fato. A destruição da casa do perverso e o florescimento da tenda dos retos (14:11) são mencionados repetidamente nessa seção do livro. O mesmo se aplica à mensagem de 14:12 citada com frequência e escolhida como tema de muitos sermões (cf. tb. 16:25). O autor expressa a loucura da rebelião do homem com grande veemência: Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte. Kidner explica a “alegria ao mesmo tempo doce e amarga” de 14:13 da seguinte maneira: “E provável que o sentido seja um destes dois: a) a alegria não traz alívio total ou final das tragédias da vida (cp. Lc 6:21,25; Jo 16:20-22); b) nosso ânimo quase sempre é influenciado por emoções opostas, e nenhuma delas é permanente” (TOT).

Hubbard parece mais próximo do sentido original, porém, ao dizer: “Os mestres sabiam que as emoções podem ser mistas, que [...] os sentimentos se mesclam dentro de nós em padrões complexos. O riso e a tristeza podem estar presentes ao mesmo tempo no mesmo coração. E o que começa como alegria pura pode, no final, revelar-se como tristeza” (CC). Não fica claro no original hebraico se 14:14 é um provérbio sinônimo ou antitético. Afirma que o infiel e o homem de bem serão recompensados por seus caminhos, mas não especifica a recompensa. Os versículos seguintes contrastam o simples e o prudente, e ressaltam pontos observados anteriormente. Enquanto o primeiro dá crédito a toda palavra, o outro atenta para os seus passos (14:15; cf. tb. 14:8). O sábio cauteloso e o insensato são contrastados em 14:16. O primeiro é cauteloso e desvia-se do mal (cf. tb. 1:7; Jó 1:1; 28:28), enquanto o último encoleriza-se e dá-se por seguro. A descrição do homem irascível prossegue: O que presto se ira faz loucuras (14:17; cf. tb. 14:29; 15:18; 29:22). Trata-se de um provérbio sinô­nimo no qual as duas partes descrevem alguém que age de forma indevida. A segunda metade se refere ao homem de maus desígnios, cujas emoções talvez não se manifestem tão prontamente, mas que também é odiado por seus atos. Como em 14:15, os simples e os prudentes são mencionados lado a lado. Os primeiros herdam a estultícia, e os últimos se coroam de conhecimento (14:18). Outro dito sinônimo trata das pessoas que trilham o caminho errado: Os maus inclinam-se perante a face dos bons, e os perversos, junto às portas do justo (14:19). Kidner comenta: “O Antigo Testamento, em seus próprios termos, e o Novo Testamento, de modo mais detalhado, prometem vindicação total” (TOT) para os bons e os justos. Nos versículos seguintes, deparamo-nos novamente com o pobre e o rico. O primeiro é odiado até do vizinho, mas o último tem muitos amigos (14:20; cf. tb. 19:4,7). O termo “odiado” mostra quanto o pobre é evitado. Hubbard observa: “A riqueza incentiva amizades, não tanto pela generosidade dos ricos, mas porque os ricos não fazem nenhuma exigência material de seus amigos. O oposto se aplica aos pobres” (CC). Outra explicação possível é que as pessoas em situação mais favorável evitam os pobres por causa de sua aparência ou modos, ou porque a companhia deles as faz sentir culpadas por sua riqueza. E importante lembrar, conforme Hubbard acrescenta, que “esses versículos devem ser entendidos como uma descrição do comportamento humano em geral, e não uma prescrição de como as pessoas devem comportar-se” (CC).

Os versículos 14:26-27 tratam dos benefícios do temor do Senhor. O primeiro versículo fala do refúgio e amparo que o justo encontra para si e sua família por temer ao Senhor. O segundo diz que o temor do Senhor é fonte de vida para evitar os laços da morte. Em 14:28, encontramos o contraste entre o rei que tem muitos súditos (multidão do povo) e o príncipe que não tem. Os súditos do primeiro são sua glória, enquanto o último está fadado à ruína. Com referência a 14:29, ver os comentários sobre 14:17. A impaciência do homem irascível contrasta com o ânimo sereno descrito no versículo seguinte (14:30). O povo hebreu reconhecia forte ligação entre a saúde emocional e a física. O coração sereno e a boa saúde andam juntos, enquanto a inveja causa a podridão dos ossos (cf. comentário em 12:4). De volta ao tema dos pobres, dois indivíduos (ou categorias de indivíduo) são contrastados em 14:31 com base em suas atitudes ou ações em relação aos pobres. O que oprime ao pobre insulta aquele que o criou, mas a este honra o que se compadece do necessitado. “O modo pelo qual as pessoas tratam os pobres demonstra sua fé no Criador. Vemos aqui uma aplicação prática da doutrina da criação” (EBC). Tanto os ricos quanto os pobres foram criados à imagem de Deus (Gn 1:27; Jó 31:15). Portanto, quem se compadece do necessitado honra a Deus. Que contraste entre esta atitude em relação aos pobres e aquela descrita em 14:20!

Em seguida, o autor contrasta o destino do perverso e dos justos no contexto de calamidades:  No coração do prudente, repousa a sabedoria, mas o que há no interior dos insensatos vem a lume. Os estudiosos debatem quanto ao significado exato da segunda linha. Alguns até mesmo acrescentam a palavra “não”, alterando o sentido do provérbio (CC). É como traduz, por exemplo, a RC: “No coração do prudente repousa a sabedoria, mas no coração dos tolos não é conhecida”. Tendo em vista o texto hebraico, porém, uma interpretação mais adequada do significado é: “A verdadeira habitação da sabedoria é com os sábios, mas mesmo entre os insensatos ela não é totalmente desconhecida”. O texto da NVI se aproxima desse sentido: “A sabedoria repousa no coração dos que têm discernimento, e mesmo entre os tolos ela se deixa conhecer”. Outro tema frequente de sermões é: A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio do povo (14:34; cf. tb. 16:12). Há quem interprete as palavras em termos políticos. Kidner, por exemplo, acredita que se trata “da maneira mais penetrante de testar políticas e realizações” (TOT). Hubbard, porém, argumenta que o termo “‘povo’ descreve principalmente a população de determinada região, e não seu sistema político” (CC). A exaltação mencionada “não é um termo material, mas, sim, moral neste contexto, como seu oposto mostra” (TOT). A referência a questões nacionais é seguida de um provérbio que contrasta dois servos do rei: O servo prudente que goza do favor do rei, e o que procede indignamente e é objeto do seu furor (14:35; cf. tb. 16:14; 19:12; 20:2).

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