Provérbios 2 — Análise Bíblica

Provérbios 2

Provérbios 2 continua o tema da busca e valorização da sabedoria que é introduzido em Provérbios 1. Ele destaca os benefícios da sabedoria, incluindo proteção, orientação, compreensão e preservação, ao mesmo tempo que contrasta esses benefícios com os caminhos destrutivos dos ímpios. O capítulo reforça a ideia de que a sabedoria vem de Deus e incentiva os leitores a buscá-la sinceramente como um tesouro.

Análise

2:1-22 O capítulo 2 constitui a unidade mais organizada de todo o livro. Consiste em apenas um poema. No original hebraico, pode ser descrito até mesmo como uma única frase! O discurso poético se inicia com as mesmas palavras de 1:10: Filho meu, se... (2:1). A tônica da seção, porém, é bem diferente. Os conselhos que até este ponto foram negativos adquirem tom positivo. Enquanto a passagem anterior enfatiza o perigo de ser seduzido pelo mal, esta mostra os benefícios proporcionados pela aquisição da sabedoria. O mestre se refere à busca bem-sucedida pela sabedoria (2:1-8), aos resultados de encontrá-la (2:9-11), fornece dois exemplos para ilustrar seu argumento (2:12-15 e 16-19) e apresenta uma conclusão (2:20-22).

2:1-8 Na passagem anterior, a sabedoria grita na rua (1:20); aqui, quem busca a sabedoria é instruído a clamar e alçar a voz (2:3). Os quatro primeiros versículos explicam a intensidade da busca. A expressão Filho meu é seguida por três declarações condicionais: Se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos (2:1); se clamores por inteligência, e por entendimento alçares a voz (2:3); e, por fim, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares (2:4). De maneira tipicamente hebraica, o autor usa uma sequência de verbos para enfatizar a intensidade necessária: “aceitar”, “esconder”, “clamar”, “alçar [a voz]”, “buscar” e “procurar”. A ordem na qual os verbos são apresentados também indica um aspecto da busca. Não se trata de uma especulação informal, mas de uma busca cujo ponto de partida é a revelação constituída de informações específicas [palavras) e instruções práticas (mandamentos) (TOT) . Aquele que procura a sabedoria explora e guarda os ensinamentos encontrados a fim de entender e aplicar seus princípios subjacentes. Seu objetivo é espiritual, e não acadêmico. Os resultados dessa busca séria, com base naquilo que Deus já revelou, é garantido: Então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus (2:5). O fato de o “temor do Senhor” e o “conhecimento de Deus” serem paralelos confirma nossa interpretação anterior da expressão (cf. comentário sobre 1:7). Aqui, “o temor do Senhor” é a recompensa da busca por sabedoria. Não constitui, porém, apenas o resultado da busca humana, pois o autor enfatiza que o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento (2:6). Quem procura a sabedoria a encontra, não necessariamente em decorrência da busca, mas porque Deus concede sabedoria e conhecimento. Como ressalta o provérbio umbundu de Angola: Ulono wosi wo manu lu kulihiso vitunda tunda ku Suku (“Toda sabedoria provém de Deus, e todas as coisas residem em Deus”). Além de conceder sabedoria àqueles que nele confiam, Deus também oferece proteção: Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade (2:7). De que maneira Deus serve de “escudo” para os justos? A resposta se encontra em 2:8: Guarda as veredas do juízo e conserva o caminho dos seus santos.

2:9-11 Não apenas Deus oferece proteção àqueles que buscam sabedoria, como a própria sabedoria se toma fonte de proteção. Em 2:5, o advérbio “então” indica que a pessoa em busca de sabedoria a encontrará; em 2:9, o mesmo advérbio se refere aos resultados de encontrá-la: Então entenderás justiça, juízo e equidade, todas as boas veredas (2:9). Os benefícios da sabedoria correspondem ao que é prometido na seção introdutória (cf. 1:3). A explicação dos benefícios da sabedoria prossegue com a conjunção porquanto em 2:10, que se aplica também a 2:11. Primeiro, o autor declara o fato: A sabedoria e o conhecimento se tomaram parte integrante da vida do discípulo (2:10). Em decorrência, o bom siso te guardará, e a inteligência te conservará (2:11).

2:12-19 O primeiro exemplo da proteção que a sabedoria oferece é relacionado ao livramento do caminho do mal (2:12). Segue-se uma descrição detalhada daqueles que andam por esse caminho. São homens que dizem coisas perversas [...] deixam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas; que se alegram de fazer o mal, folgam com as perversidades dos maus, seguem veredas tortuosas e se desviam nos seus caminhos (2:12-15). No primeiro discurso, o filho é avisado para não se relacionar com pessoas desse tipo. No segundo discurso, recebe a garantia de que Deus e a sabedoria o protegerão delas. O segundo exemplo de proteção é relacionado a mulheres perversas (2:16-19). O autor descreve de forma especí­fica a mulher adúltera [...] estrangeira (ou “pervertida”, NVI) que deixa o amigo da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus (2:16-17). O fato de ser chamada de “estrangeira” e descrita como alguém que “esquece da aliança do seu Deus” não significa que a mulher não seja israelita. É estrangeira quanto ao seu comportamento inapropriado para alguém que faz parte do povo de Deus. Na opinião de alguns estudiosos, trata-se de uma referência tanto à aliança nacional de Israel com Deus quanto à aliança firmada no matrimônio. Para outros, o versículo descreve apenas o rompimento do pacto matrimonial (cf. tb. Ml 2:14), rompimento que também envolve Deus e o cônjuge. Mas ela não se contenta em quebrar seu voto e procura atrair o jovem com palavras sedutoras (2:16). Relacionar-se com ela, porém, corresponde a atravessar o limiar para a morte: Porque a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas, para o reino das sombras da morte; todos os que se dirigem a essa mulher não voltarão (2:18-19). O tema desses versículos é repetido várias vezes nos discursos subsequentes (5:3-6,20; 6:23-35; 7:1-27; 9:13-18).

2:20-22 Ao adquirir sabedoria e evitar as armadilhas de mulheres e homens perversos, o jovem preservará sua vida: Assim, andarás pelo caminho dos homens de bem e guardarás as veredas dos justos (2:20). A recompensa final dos justos e o julgamento dos perversos são retratados claramente. Enquanto os retos habitarão a terra (2:21) que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem, os perversos serão eliminados da terra e desarraigados (2:22). No contexto do povo da aliança, aterra em questão pode ser a terra prometida. Para os cristãos, porém, pode ser a terra como um todo. Não obstante a referência exata, há um contraste inequívoco entre os destinos que reaparecerá diversas vezes nos discursos seguintes.

Índice: Provérbios 1 Provérbios 2 Provérbios 3 Provérbios 4 Provérbios 5 Provérbios 6 Provérbios 7 Provérbios 8 Provérbios 9 Provérbios 10 Provérbios 11 Provérbios 12 Provérbios 13 Provérbios 14 Provérbios 15 Provérbios 16 Provérbios 17 Provérbios 18 Provérbios 19 Provérbios 20 Provérbios 21 Provérbios 22 Provérbios 23 Provérbios 24 Provérbios 25 Provérbios 26 Provérbios 27 Provérbios 28 Provérbios 29 Provérbios 30 Provérbios 31