Provérbios 22 — Análise Bíblica

Provérbios 22

Provérbios 22 fornece sabedoria prática sobre vários aspectos da vida, da ética e do comportamento humano. Enfatiza o valor de uma boa reputação, humildade, paternidade responsável e a importância da conduta ética. O capítulo também alerta contra a opressão e associações imprudentes, ao mesmo tempo que sublinha a importância do temor do Senhor e da busca pelo conhecimento e pela excelência.

Análise

22:1-16 Como a sabedoria, mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro (22:1). Hubbard chama a atenção para o tema subjacente da sabedoria ao comentar: “A estima da comunidade, um bom nome [...], é uma das maiores recompensas da sabedoria” (CC). Essa ideia concorda com a cosmovisão africana, pois, a fim de exercer impacto positivo sobre outros, a pessoa precisa ser aceita pela comunidade. O rico e o pobre se encontram; a um e a outro faz o Senhor (22:2). Esse enfoque sobre o elemento comum entre o rico e o pobre guarda do orgulho o primeiro e do desespero o último. Os três provérbios seguintes tratam de como devemos viver. A primeira virtude recomendada é a prudência: 22:3 deixa claro que “o otimismo cego não é fé, e sim insensatez” (TOT). O versículo é repetido em 27:12. Vários provérbios enfatizam as virtudes recomendadas em 22:4 e suas respectivas recompensas. O provérbio antitético de 22:5 nos lembra que o caminho dos perversos é repleto de espinhos e laços, mas o homem prudente e justo que guarda a sua alma retira-se para longe deles.

A promessa de 22:6 é citada com frequência em sermões e fica implícita na estrutura do ditado: Se ensinarmos a criança no caminho em que deve andar [...], quando for velho não se desviará dele. De acordo com algumas interpretações, “o caminho em que deve andar” é uma referência ao caráter e aos dons singulares, de modo que se deve respeitar a individualidade de cada criança ao ensiná-la. O princípio é verdadeiro, mas não parece estar em pauta em 22:6. “No livro de Provérbios, há somente dois ‘caminhos’ que uma criança pode seguir, o caminho dos sábios e justos, ou o caminho dos insensatos e perversos” (EBC). Como Kidner nos lembra, devemos respeitar a individualidade de cada criança, mas não sua obstinação. O texto de 22:7 apenas apresenta de forma realista a vantagem econômica de um grupo em relação a outro: O rico domina sobre o pobre, e o que toma emprestado é servo do que empresta. Já 22:8 traz uma advertência para o que semeia a injustiça e um estímulo para quem sofre: o perverso segará males; e a vara da sua indignação, que causou sofrimento a outros, falhará. Também 22:9 traz palavras de encorajamento para os justos (cf. comentários sobre 11:25). Em 22:10, temos um provérbio sinônimo.

Quando o primeiro par, o escarnecedor e a contenda, não está por perto, o segundo par, as demandas e a ignomínia, também deixa de existir. Observamos um nítido contraste entre essa instrução para se livrar de alguém cujas palavras causam problemas e a descrição daquele que é bem-vindo na presença do rei (22:11; cf. tb. 16:13). O rei se sente atraído por essa pessoa porque ela ama a pureza de coração e é grácil no falar. Os três provérbios seguintes tratam das palavras. Primeiro, 22:12 diz que, segundo a sua superintendência justa sobre suas criaturas, os olhos do Senhor conservam aquele que tem conhecimento, mas as palavras do iníquo ele transtornará. Em seguida, o autor apresenta as palavras do preguiçoso, que usa de qualquer desculpa, por mais absurda que seja, para evitar o trabalho (22:13). Por fim, trata da boca da adúltera, cujas palavras e beijos são a cova profunda sobre a qual fomos advertidos anteriormente (22:14; cf. tb. cap. 7). Como 22:15 mostra, quem não usa a vara cria um filho mimado (cf. tb. 13:24). O que oprime ao pobre e o que dá ao rico (22:16) certamente empobrecerão, pois aquele que enriquece à custa dos pobres será julgado por Deus e aquele que presenteia o rico desperdiça seu dinheiro. No final das contas, portanto, os dois acabarão pobres.

22:17—24:34 Coletânea de ditos dos sábios
Encontramos aqui outra coletânea de provérbios, desta vez subdividida em “preceitos e admoestações dos sábios” e “mais alguns provérbios dos sábios”.

22:17— 24:22 Preceitos e admoestações dos sábios
Essa seção trata de temas quase tão variados quanto os dos capítulos 10 a 22 e 25 a 29. Observamos, porém, a presença de mais conjuntos de provérbios aqui do que na seção anterior, apesar de tais conjuntos serem tão extensos quanto os dos capítulos 1 a 9. Depois de começar com as exortações habituais para dar ouvidos e após justificar a necessidade dessas admoestações (22:17-19), o autor chama o grupo de provérbios de excelentes coisas (22:20a), expressão que também pode ser traduzida por “trinta ditados”. De acordo com os estudiosos, se a tradução “trinta ditados” estiver correta, deve haver uma relação entre essa seção de Provérbios e o manual de instruções egípcio de Amenemope, constituído de trinta capítulos. A relação é possível, pois Deus concedeu a outras nações a mesma sabedoria prática contida nesses provérbios. O contexto israelita se evidencia, porém, na instrução de 22:19 para confiar no Senhor. A contagem dos trinta ditados é problemática. Kidner afirma que “a seção pode ser dividida nesse número arredondado de parágrafos” (TOT), enquanto Ross isola trinta ditados ao considerar os provérbios separadamente em algumas ocasiões e, em outras, agrupar dois ou três (EBC). A dificuldade de identificar os trinta ditados pode indicar que essa tradução da expressão não é adequada.

Uma pequena mudança numa vogal hebraica muda o sentido para “excelentes coisas” (RA). Uma vez que o aprendiz tiver assimilado a sabedoria contida nesses conselhos e conhecimentos (22:20) e nessas palavras da verdade, poderá responder claramente aos que o enviarem (22:21). Os ditados começam com exortações quanto a uma questão discutida repetidamente nas seções anteriores, a saber, a justiça social: Não roubes ao pobre [...] nem oprimas em juízo ao aflito (22:22). Quem proceder desse modo, sofrerá as consequências, pois o Senhor defenderá a causa dos necessitados (22:23). O autor também volta a falar da pessoa irascível (22:24) e adverte que quem andar com ela adquirirá suas características (22:25). A advertência de não ser fiador também é repetida (22:26-27; cf. tb. 6:1-5), com a lembrança de que se corre o risco deperder até a própria cama. Esse perigo talvez remeta à passagem de Êxodo sobre os penhores (Êx 22:26-27). Em Israel, a terra era uma dádiva inalienável concedida por Deus (22:28; 23:10-11). Daí a remoção de marcos de propriedade constituir tamanha violência não apenas contra o indivíduo, mas também contra os direitos de sua família. O provérbio nos lembra que tanto no passado quanto no presente, o homem habilidoso é sempre requisitado (22:29; cf. tb. 22:11).

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