Provérbios 18 — Análise Bíblica

Provérbios 18

Provérbios 18 fornece sabedoria prática sobre vários aspectos da vida, incluindo as consequências das próprias palavras e ações, a importância da comunidade e das amizades, e o valor de buscar conhecimento e compreensão. O capítulo enfatiza consistentemente o impacto das palavras e da fala na vida e nos relacionamentos de uma pessoa, sublinhando a necessidade de sabedoria e discernimento na comunicação. Também incentiva os leitores a confiar no nome do Senhor em busca de segurança e refúgio.

Análise

18:1-24 O provérbio inicial descreve um indivíduo nocivo à comunidade. Além de buscar o seu próprio interesse, ele obstinadamente insurge-se contra a verdadeira sabedoria (18:1). A pessoa descrita em 18:2 demonstra a mesma falta de senso, pois não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior. No versículo seguinte, encontramos elementos que Kidner chama de “companheiros de viagem do pecado” (TOT): Vindo a perversidade, vem também o desprezo; e, com a ignomínia, a vergonha (18:3). A interpretação de 18:4 depende de como entendemos as duas linhas do provérbio: se são sinônimas ou antitéticas. Kidner as considera antitéticas, pois imagina que as águas profundas da primeira linha escondem algo (cf. 20:5) e conclui que “o provérbio contrasta nossa relutância humana, nossa incapacidade de nos entregar, com a sinceridade e clareza incomuns da verdadeira sabedoria” (TOT). O sistema judicial mencionado em 18:5 não é bom porque se mostra parcial em favor do perverso e contra os justos. Os três provérbios seguintes voltam a tratar da fala: 18:6-7 se refere aos lábios e à boca do insensato (em ordem inversa em 18:7) e ressalta que as palavras desencadeiam contenda, açoites, destruição e são um laço para a alma.

A fofoca também pode ser um laço, e 18:8 expressa seu caráter diabolicamente atraente: As palavras do maldizente são doces bocados que descem para o mais interior do ventre (cf. tb. 26:22). A expressão “doces bocados” vem de uma raiz que significa “engolir com sofreguidão”. Ross comenta: “Quando esses bocados saborosos chegam ao mais íntimo do ser, despertam um desejo ainda maior por eles” (EBC). O que faz 18:9 é equiparar quem deixa uma tarefa inacabada com o desperdiçador. Trata-se de um versículo de grande relevância para o nosso continente repleto de projetos inacabados ou sem a devida manutenção. Quanto desperdício de recursos já escassos! O texto aplica-se também a quem não realiza devidamente um trabalho necessário. Em 18:10, o nome do Senhor é descrito como torre forte [...] à qual o justo se acolhe e está seguro. O fato de o versículo seguinte descrever os bens do rico como sua cidade forte (18:11) corrobora o argumento de Farmer de que os provérbios desse capítulo não são totalmente aleatórios. O contraste com os versículos anteriores indica, porém, que este provérbio não pode ser entendido de forma literal e que a segunda linha usa claramente de sarcasmo quando diz que o rico imagina que seus bens são uma muralha intransponível. Kidner resume os versículos como um contraste entre uma torre forte e um castelo de areia e diz: “O mundo acredita que o invisível é irreal. Mas não é o homem de Deus (18:10), e sim o homem de posses que precisa valer-se da imaginação a fim de se sentir seguro” (TOT). Com referência a 18:12, ver os comentários sobre orgulho em 16:18.

Devido ao orgulho, quase todos nós temos o hábito de supor que sabemos todas as respostas, de modo que tiramos conclusões precipitadas ou respondemos antes de ouvir o que o outro tem a dizer. Essa atitude é descrita como estultícia e vergonha (18:13; cf. tb. 18:2,17). A prioridade das coisas espirituais em relação às coisas físicas em momentos de crise é ressaltada em 18:14. A vitalidade espiritual interior pode sustentar uma pessoa durante enfermidades físicas, mas o espírito abatido, quem o pode suportar? A pessoa desesperada e deprimida é incapaz de lidar com situações difíceis. Encontramos em 18:15 um dito sintético acerca dos sábios: O coração do sábio adquire conhecimento, enquanto seu ouvido procura o saber. A interpretação de 18:16 é um tanto controversa: O presente que o homem faz alarga-lhe o caminho e leva-o perante os grandes. A questão é se a palavra traduzida por “presente” difere ou não do termo traduzido por “suborno” em 17:8. Este último também pode significar “presente”, apesar de Kidner asseverar que “nunca é usado para se referir a um presente desinteressado” (TOT). Hubbard argumenta que o presente em questão é “dinheiro, artesanato, especiarias ou perfumes como os presentes dos magos que Mateus descreve”. Sua intenção é simplesmente permitir que o ofertante obtenha acesso a pessoas importantes. Não se trata de “suborno cujo propósito não é encorajar o favor ou a amizade, mas, sim, influenciar decisões judiciais ou administrativas (Êx 23:8; Am 5:12). Presentes como esses eram, sem dúvida, usados de forma indevida, mas a questão tratada pelo mestre aqui é outra” (CC). Ao que parece, contudo, a distinção entre os dois termos hebraicos não era tão nítida quanto sugerem os dois comentaristas anteriormente. Em 21:14, o autor emprega os dois termos: “O presente que se dá em segredo abate a ha, e a dádiva em sigilo, uma forte indignação”. Além de as duas palavras ocorrerem juntas, as duas linhas do provérbio são sinônimas, ou seja, têm o mesmo significado.

Em outras passagens, a tradução alternativa para o termo “presente” é “suborno”. Por exemplo: “O que é ávido por lucro desonesto transtorna a sua casa, mas o que odeia o suborno, esse viverá” (15:27). Além de ser possível traduzir a mesma palavra por “presente” ou “suborno”, o provérbio é antitético, ou seja, a segunda linha apresenta um contraste com a primeira. O homem ávido por lucro na primeira linha, portanto, é contrastado com o homem que odeia suborno, indicando que o primeiro aceitou o suborno devido à sua cobiça. Vemos, portanto, que, apesar de Provérbios ser realista ao reconhecer que presentes podem ajudar o ofertante a obter resultados, o livro não aprova o pagamento de subornos a fim de obter uma decisão favorável para quem paga. O provérbio seguinte parece remeter ã instrução em 18:13 para ouvir antes de falar. Como 18:17 lembra, devemos ouvir os dois lados de um caso antes de chegar a alguma conclusão, não obstante quem fale primeiro ou por último. A segunda linha, até que vem o outro e o examina, pode referir-se a um contexto de tribunal onde é necessário ouvir e interrogar as testemunhas antes de chegar ao veredito. Com referência a 18:18, ver os comentários sobre 16:33. O provérbio seguinte é uma séria advertência para cultivarmos e guardarmos nossos relacionamentos. As imagens da fortaleza e dos ferrolhos de um castelo (18:19) deixam claro que “as paredes invisíveis da desavença” são “extremamente fáceis de levantar, mas difíceis de derrubar” (TOT). Tanto 18:20 quanto 18:21 tratam da fala em termos de frutos. Mostram que precisamos ficar atentos para o que dizemos, pois as palavras afetam a qualidade de nossa vida. A língua pode espalhar destruição, mas também pode vivificar e promover cura. Os três últimos provérbios desse capítulo tratam de relacionamentos. Sem dúvida, uma esposa é uma dádiva de Deus e, de fato, quem foi abençoado com essa dádiva já alcançou a benevolência do Senhor (18:22). O relacionamento seguinte é menos afortunado, pois o rico faz pouco caso das súplicas do pobre (18:23). Jesus se refere a uma situação semelhante na parábola do juiz iníquo e da viúva (Lc 18:1- 8). Apesar de o provérbio retratar realidades deste mundo, é necessário considerá-lo juntamente com outros ditos acerca de como o rico deve tratar o pobre (p. ex., 14:21,31). Por fim, vemos o contraste entre muitos amigos e um amigo verdadeiro (18:24). Ter muitos amigos não é garantia de sucesso, especialmente quando a amizade deles é por interesse. Relacionamentos desse tipo podem ser destrutivos. E possível, no entanto, descobrir uma joia no meio deles: o amigo mais chegado do que um irmão (cf. tb. 17:17).

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