Provérbios 16 — Análise Bíblica

Provérbios 16

Provérbios 16 fornece sabedoria prática sobre vários aspectos de uma vida justa, sabedoria e as consequências das ações de alguém. Enfatiza a soberania de Deus, a importância da sinceridade e da integridade, o valor da sabedoria e o impacto das palavras e atitudes. O capítulo incentiva consistentemente os leitores a buscarem a orientação de Deus, a cultivarem a sabedoria e a manterem um coração humilde e sincero em suas ações e palavras.

Análise

16:1-33 Desse capítulo em diante, os provérbios deixam de ser antitéticos e assumem formas variadas: sinônimos, sintéticos, antitéticos e comparativos. O nome de Deus aparece com frequência nesse capítulo, quer na forma usada na aliança e transmitida a Moisés (Êx 3:13-15), representada aqui por “Senhor”, quer em sua forma mais geral, traduzida por “Deus”. Na verdade, os onze primeiros versículos (com exceção de 16:8,10) fazem menção ao nome “Senhor”. Como Hubbard destaca, até aqui o autor focalizou a sabedoria que os sábios acumularam sobre como viver na criação do Senhor. “Até o capítulo 16, porém, a presença divina é, em sua maior parte, implícita, exceto nas passagens que chamam os ouvintes a viver no temor do Senhor. A necessidade e o significado desse temor se tomam bem mais evidentes aqui do que antes” (CC).

O capítulo começa com o dito: O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor (16:1). Não há dúvida de que os planos do coração, ou seja, pensamentos acerca do que se deve dizer, são humanos. Apesar de todo esse planejamento, porém, “a resposta certa dos lábios” (ou “resposta da língua”, NVI e RC) vem, em última análise, do Senhor (cf. Mt 10:19). Um provérbio tigrigna (Eritréia) expressa a mesma verdade: Seb amami Ezghi fetsami (“O homem começa; Deus completa”), como também o faz o ditado conhecido: “O homem propõe, Deus dispõe”. Ross comenta: “Este versículo pode ser entendido de duas formas: a) os pensamentos e a fala são iguais ou b) a fala difere daquilo que a pessoa pretendia dizer. A segunda ideia é mais condizente com o contraste” (EBC). Este provérbio e o seguinte nos ensinam que, em nossa jornada aqui na terra, devemos depender totalmente do Senhor, e não de nossas próprias habilidades. Diz 16:2: Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito (cf. tb. 21:2). O problema é que até mesmo o caminho do insensato lhe parece correto (12:15).


Na realidade, o Senhor onisciente é o Juiz supremo e verdadeiro. Tendo em vista a mensagem dos versículos anteriores, 16:3 revela em que consiste a decisão sábia: Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos. Afinal, tudo — até mesmo os perversos e seu destino — servirá, em última análise, para cumprir o plano ou propósito de Deus, apesar de Deus não ser o autor do mal (16:4). Uma vez que o Senhor abomina o arrogante, aquele que prefere fazer as coisas a seu modo, é evidente que não ficará impune (16:5; cf. tb. 15:8-9,26; 16:18). Não devemos entender 16:6 como um contraste entre “expiar a culpa” e “evitar o mal” no sentido de que o primeiro é obra de Deus e o segundo, do homem. Tendo em vista tratar-se de um provérbio sinônimo, as duas linhas falam da responsabilidade humana. Misericórdia e verdade (ou “amor e fidelidade”, NVI e RC) caracterizam o Senhor da aliança, mas também devem caracterizar os seres humanos (cf. 3:3- 7). Assim como o temor do Senhor leva a pessoa a evitar o pecado, a fidelidade ao Deus da aliança expia a culpa decorrente do pecado (cf. tb. Ross, EBC). Kidner considera 16:7 um “incentivo à intrepidez” (TOT).

Sem dúvida, é um excelente encorajamento e promessa para os membros do povo de Deus que trabalham em condições extremamente hostis. O provérbio em 16:8 não nega a possibilidade de a riqueza coexistir com a justiça. Afirma, porém, que é melhor ser pobre e justo do que acumular riqueza por meio da injustiça (cf. tb. 15:16-17). O conceito apresentado em 16:9 é semelhante ao de 16:1. Na sequência, encontramos um conjunto de provérbios acerca de reis. O primeiro (16:10) é de difícil interpretação. Parece indicar que, pelo fato de um rei em sua função oficial administrar justiça em nome de Deus, sua boca não deve trair a justiça (cf. tb. 31:1-9). Com referência a 16:11, ver os comentários sobre 11:1. A justiça mencionada anteriormente no contexto nacional (14:34) é associada agora ao rei e seu governo (16:12; 20:28; 25:5; 29:14). Depois de declarar que o único alicerce firme para o trono é a justiça, Hubbard prossegue: “Tanto a ordem divina na criação quanto a vigilância divina sobre a história visam destituir, no devido tempo, os reis ímpios de sua posição de autoridade. O cumprimento da justiça é praticamente um ato de autopreservação régia” (CC). O texto de 16:13 aplica ao nível individual a justiça que deve caracterizar o governo dos reis. Oficiais e cidadãos também devem ser honestos.


O furor ou ira de qualquer pessoa pode ser fatal, mas o perigo é ainda maior quando um rei poderoso se enfurece. O homem sábio, porém, o apazigua (16:14). Quando, por outro lado, o rei está satisfeito e seu semblante se mostra alegre, o resultado é vida, em vez de morte. A segunda parte do versículo desenvolve essa ideia: Sua benevolência é como a nuvem que traz chuva serôdia (16:15). Ouro e prata não se comparam com a sabedoria, pois ela é muito mais preciosa (16:16). Outra expressão de valor da vida correta pode ser encontrada no provérbio sinônimo em 16:17. Quem segue o caminho dos retos evita o mal e, desse modo, preserva a sua alma. Assim como “a humildade precede a honra” (15:33), também a soberba precede a ruína (16:18; cf. tb. 18:12). A mesma ideia se repete na segunda linha paralela: a altivez do espírito [precede] a queda. Kidner comenta: “O mal específico da soberba é sua oposição ao primeiro princípio da sabedoria (o temor do Senhor) e aos dois grandes mandamentos. O soberbo opera, portanto, em oposição a si mesmo (8:36), ao seu próximo (13:10) e ao Senhor (16:5). A ruína pode sobrevir de qualquer uma dessas áreas” (TOT). Em 16:19, encontramos uma alternativa melhor, ainda que possivelmente sacrificial. A bem-aventurança de dar ouvidos ao ensino e confiar no Senhor volta a ser ressaltada em 16:20.

O provérbio antitético de 16:22 contrasta entendimento e estultícia. O primeiro é fonte de vida, e a última é castigo. O sábio é uma das fontes de entendimento. Segue-se, portanto, um pequeno conjunto de provérbios que tratam do conteúdo e da forma do discurso do sábio. Tanto 16:21 quanto 16:23 falam “da impressão que a verdadeira sabedoria inevitavelmente causa” (TOT) e 16:24 explica o efeito prazeroso e curativo das palavras agradáveis. São comparadas ao favo de mel, pois são doces para a alma e medicina para o corpo. O texto de 16:25 repete 14:12 e é seguido de um provérbio bastante prático (16:26) que identifica um dos motivos pelos quais alguém continua a labutar: a fome! (Outras passagens também tratam deste e de outros motivos para trabalhar; cf. Ef 4:28; 6:7-8 e 2Ts 3:10-13.) O autor retoma o tema da fala, agora nos lábios do depravado e do perverso (16:27-28), cujo intento é tramar o mal, causar desavença e separar amigos íntimos. As maquinações dos perversos também aparecem nos versículos seguintes: O homem violento alicia o seu companheiro e guia-o por um caminho que não é bom (16:29). Nas linhas sinônimas de 16:30, um homem fecha (ou “pisca”, NVI e RC) os olhos, e outro morde (ou “franze”, NVI) os lábios.


Os dois tramam o mal em silêncio. O texto de 16:31 não louva a velhice em si, mas focaliza aquilo que as cãs simbolizam, a saber, uma vida de justiça. Em 16:32, o longânimo é paralelo ao homem que domina o seu espírito, e o herói da guerra, ao homem que toma uma cidade. Na comparação, o primeiro par é mais excelente que o segundo (cf. tb. 25:28). Para os mestres sábios, os verdadeiros heróis não são os estrategistas militares e generais que conquistam cidades e nações, mas, sim, os indivíduos que controlam a própria índole. Lançar sortes, ou seja, tomar decisões lançando dados ou algo semelhante, é o tema de 16:33 (cf. tb. 18:18). O provérbio não diz que devemos buscar orientação em recursos desse tipo. Antes, afirma o controle do Senhor até mesmo no ato aparentemente aleatório de lançar sortes, pois, do Senhor procede toda decisão. Ross resume essa ideia e o restante do capítulo ao comentar: “O capítulo termina como começou, com uma palavra acerca da soberania de Deus” (EBC)

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