Provérbios 6 — Análise Bíblica

Provérbios 6

Provérbios 6 contém uma variedade de ensinamentos e advertências sobre temas como responsabilidade financeira, os perigos dos compromissos tolos, a importância da diligência, as consequências do pecado e o valor da sabedoria. Fornece orientação prática para viver uma vida moralmente correta e responsável, ao mesmo tempo que alerta contra comportamentos e decisões destrutivas. O capítulo ressalta a importância de seguir a sabedoria e viver de acordo com os princípios de Deus.

Análise

6:1-35 A seção não começa com as exortações habituais para dar ouvidos às instruções do mestre. Essa injunção aparece no meio do discurso (6:20). É possível que se trate de um recurso literário para enfatizar a urgência de evitar os perigos aqui descritos.

6:1-5 É extremamente perigoso ser fiador de alguém, como fica claro pela forma condicional que o autor emprega para a decisão e suas consequências: Se ficaste por fiador do teu companheiro e se te empenhaste ao estranho, estás enredado com o que dizem os teus lábios, estás preso com as palavras da tua boca (6:1-2). As declarações dizem basicamente a mesma coisa, mas a repetição lhes confere um tom de urgência e indica a precariedade da situação de quem se tomou fiador. O indivíduo afiançado (o devedor) é descrito como “estranho”. Em seu desejo de ajudar o outro, o fiador parece ter tomado a decisão de forma apressada, sem pensar nas possíveis consequências. O mestre aconselha o fiador a se humilhar diante do credor (“teu companheiro”) e sair dessa situação o mais rápido possível: Agora, pois, faze isto, filho meu, e livra-te, pois caíste nas mãos do teu companheiro: vai, prostra-te e importuna o teu companheiro (6:3). Não há tempo para perder! Não dês sono aos teus olhos, nem repouso às tuas pálpebras (6:4). A imageria usada na argumentação é dramática: Livra-te, como a gazela, da mão do caçador e, como a ave, da mão do passarinheiro (6:5). O conselho do mestre é prático e realista.

6:6-11 Em versículos anteriores, o aprendiz é chamado repetidamente de “filho meu” (6:1,3). Aqui, porém, o mestre o chama de preguiçoso (6:6,9). Além dessa designação vexatória, o mestre usa outras humilhações para tratar da diligência e da indolência. Com sarcasmo, aconselha o preguiçoso a aprender com as formigas. “Um indivíduo com a dádiva da fala e um cérebro do tamanho de um formigueiro inteiro é instruído a se curvar, olhar para baixo e aprender com meros insetos” (CC). A lição é simples: Apesar de as formigas não terem um líder, fato ressaltado pelo uso de três sinônimos para cargos de liderança (chefe, oficial, comandante), sua diligência se evidencia na maneira pela qual elas armazenam provisões no tempo certo (6:7-8). Em seguida, o mestre exorta: Até quando ficarás deitado? Quando te levantardes do teu sono? (6:9) e avisa o preguiçoso de que a pobreza lhe sobrevirá como um ladrão (ou “como um homem armado”, NVI) se ele não aprender a lição e mudar de atitude (6:10-11).

6:12-19 A advertência acerca daqueles que causam desordem e dissensão no meio da comunidade é dada de duas formas. A primeira parte da passagem (6:12-15) descreve o perturbador, enquanto a segunda parte (6:16-19) repete as informações em ditos numéricos. A maneira em que o dito é introduzido: Seis coisas o Sensor aborrece, e a sétima a sua alma abomina (6:16), mostra que o autor não pretende fornecer uma lista completa. Listas de ditados como essa são estruturadas a fim de enfatizar o último item e sugerem que ele expressa a essência dos seis itens anteriores. Várias coisas mencionadas na primeira passagem descritiva voltam a ser mencionadas na segunda. Provérbios 6:14 é repetido em 6:19 de modo ligeiramente modificado. Ademais, dois termos hebraicos sinônimos, ambos traduzidos por “coração”, ocorrem em 6:14a e 6:18a, e a mesma palavra hebraica é usada em 6:12 e 6:18a (a RA traz homem de Belial e iníquos; a NVI traz, mais corretamente, “perverso” e “perversos”). Outros paralelos são os olhos (6:13) e olhos altivos (6:17); com os pés (6:13) e pés (6:18); o mal (6:14) e para o mal (6:18). O destino do perturbador da ordem é descrito em termos que mostram a repentinidade do seu julgamento: Pelo que a sua destruição virá repentinamente; subitamente, será quebrantado, sem que haja cura (6:15).

6:20-35 Na segunda metade do capítulo, o mestre volta a advertir acerca da mulher imoral. O aviso é precedido da exortação habitual para obedecer às instruções dos pais (6:20-21; cf. tb. 1:8-9), mas aqui o autor emprega uma imagem diferente. Em 6:22-23, o mandamento e a instrução do sábio são descritos como lâmpada e luz, respectivamente. A comparação sugere que possuem a mesma autoridade que a lei divinamente revelada (cf. Sl 119:105). De acordo com o mestre, o propósito do mandamento, da lei e das correções disciplinares é guardar o jovem da vil mulher e das lisonjas da mulher alheia (6:24). A admoestação para manter distância dela começa com as palavras: Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te deixes prender com as suas olhadelas (6:25; uma tradução mais precisa seria “os seus cílios”). A cobiça não é apenas o primeiro passo para cair em pecado; Jesus ensinou que a própria cobiça é pecado (Mt 5:27-28). O mestre explica por que o jovem deve evitar essa mulher: Por uma prostituta o máximo que se paga é um pedaço de pão, mas a adúltera anda à caça de vida preciosa (6:26). Isso não significa que ter relações com uma prostituta é um mal menos grave que ter relações com uma adúltera. Não se trata de contraste ou comparação, mas de um paralelismo sinônimo no qual a segunda linha reforça a ideia da primeira. Em seguida, o mestre sábio usa perguntas retóricas e uma analogia para ressaltar a loucura do adultério (6:27- 28). A resposta óbvia às duas perguntas é “não”. É impossível colocar fogo no peito sem incendiar as vestes ou andar sobre brasas sem queimar os pés. Assim será com o que se chegar à mulher do seu próximo; não ficará sem castigo todo aquele que a tocar (6:29). A mensagem é inequívoca! “Não precisamos de aids e outras doenças sexualmente transmissíveis para lembrar como a promiscuidade é destrutiva” (BST). O autor faz uma comparação (talvez o termo mais apropriado seja “contraste”) entre o ladrão que rouba para saciar a fome (6:30-31) e o adúltero (6:32-33). Não devemos imaginar, contudo, nenhuma aprovação ao pecado de roubar. Os Dez Mandamentos o condenam claramente (cf. Êx 20:15; Dt 5:19). A reparação sete vezes maior (6:31) excede a restituição prevista por lei (Êx 22:1) e parece ser uma hipérbole cuja intenção é deixar claro que o roubo é um crime sério. O ponto de contraste é a insensatez de quem comete adultério, assim como a vergonha, estigma, ignomínia e insegurança decorrentes. Depois de descrever a situação do ladrão, o mestre diz: O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa (6:32). Além de não ter senso e cometer um ato que destrói sua vida presente e futura, o adúltero achará açoites e infâmia, e o seu opróbrio nunca se apagará (6:33). Os versículos seguintes explicam o que causa esse fim triste: Porque o ciúme excita o furor do marido; e não terá compaixão no dia da vingança. Não se contentará com o resgate, nem aceitará presentes, ainda que sejam muitos (6:34-35). O autor adverte que o adúltero vive à beira da morte, pois o marido ofendido não descansará enquanto não se tiver vingado.

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