Provérbios 20 — Análise Bíblica
Provérbios 20
Provérbios 20 fornece sabedoria prática sobre vários aspectos da vida, da ética e do comportamento humano. Enfatiza o valor da retidão, da honestidade, da paciência e da busca por conselhos sábios. O capítulo também destaca o papel do Senhor na orientação dos assuntos humanos e alerta contra comportamentos negativos, como preguiça, conflito e desrespeito pelos pais. Em última análise, incentiva os leitores a viver com integridade e retidão moral.Análise
20:1-30 O capítulo começa com um provérbio sobre os males da bebida. Em 20:1, as substâncias inebriantes, como vinho e bebida forte (ou “fermentada”, NVI), são personificadas e recebem rótulos que caracterizam os insensatos: escarnecedor (cf. 19:29) e alvoroçadora (cf. 15:18, que “provoca brigas”, NVI). Não é de admirar que todo aquele que por eles é vencido não é sábio (cf. tb. 23:20-21,29-35; 31:4-7)! O grito do rei é tão assustadora quanto o bramido do leão (20:2). O autor menciona suas consequências fatais em 16:14. Mas os reis não são os únicos a se enfurecer, e o provérbio antitético seguinte contrasta a calma do sábio com a natureza contenciosa do insensato (20:3). Em 19:24, o indolente tem alimento, mas é preguiçoso demais para comê-lo. É sorte ter algo para comer, pois 20:4 lembra que, por não se dar ao trabalho de arar os campos na primavera, o preguiçoso não terá nada para ceifar. Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem (20:5). As palavras do homem são descritas de maneira semelhante em 18:4. Nos dois casos, a expressão parece indicar que tais propósitos são difíceis de interpretar, motivo pelo qual é necessário o discernimento de um homem de inteligência para compreendê-los. A disparidade entre aquilo que as pessoas dizem a respeito de si mesmas e seu verdadeiro caráter também aparece em 20:6. Professar e praticar não são a mesma coisa. A segunda parte do provérbio parece considerar impossível encontrar um homem fidedigno, mas o pessimismo é contrabalançado pela descrição do amigo verdadeiro em 18:24. As bênçãos do homem justo são transmitidas à sua descendência (20:7; cf. tb. 14:26). Os dois versículos seguintes provavelmente devem ser considerados em conjunto. O primeiro se refere ao papel do rei num julgamento: Assentando-se o rei no trono de juízo, com os seus olhos dissipa todo mal (20:8; cf. tb. 20:26).O segundo, porém, se refere ao julgamento num tribunal ainda mais elevado: Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado? (20:9). Kidner comenta: “Os olhos experientes do verdadeiro governante separam a palha do trigo; o Espírito do Senhor é ainda mais preciso” (TOT). Como o autor explicou em 11:1 e reitera em 20:10, Deus abomina negócios escusos (cf. tb. 16:11; 20:23). O advérbio até em 20:11 parece ligar o versículo ao texto anterior e indicar que até uma criança sabe que é errado trapacear nos negócios. Além de afirmar que Deus é o Criador do ouvido e do olho, 20:12 nos lembra que esses órgãos foram criados com um propósito. A audição e a visão que eles proporcionam podem ir além do âmbito físico, estendendo-se à dimensão espiritual (Is 6:10; Mt 13:11-17). A seguir, 20:13 volta ao tema do preguiçoso e às consequências do descanso excessivo (cf. tb. 20:4). Todos conhecem a técnica de pechincha descrita em 20:14, na qual o comprador menospreza aquilo que deseja comprar a fim de levar o vendedor a baixar o preço: Nada vale, nada vale, diz o comprador, mas, indo-se, então, se gaba de sua compra. Ele pode ter feito um ótimo negócio, mas não vale nada quando comparado com ajoia preciosa de 20:15, ou seja, a sabedoria, um bem muito mais valioso do que ouro e pérolas (cf. 8:10-11) encontrados nos lábios instruídos. O dito de 20:16, repetido em 27:13, parece contradizer a lei de Moisés, que especifica: “Se do teu próximo tomares em penhor a sua veste, lha restituirás antes do pôr do sol; porque é com ela que se cobre, é a veste do seu corpo” (Êx 22:26-27). Aqui, porém, o provérbio diz que o penhor não deve ser devolvido: Tome-se a roupa àquele que fica fiador por outrem. Essa medida é recomendada apenas se a pessoa que ofereceu o penhor o fez como garantia por estrangeiros (ou “mulher leviana”, NVI).
Hubbard discute demoradamente a contradição e considera a medida justificável, pois os atos da pessoa em questão são tão imprudentes que põem em risco não apenas o credor, mas toda a comunidade (CC). Outra possibilidade é que a retenção da veste tomada como penhor durante a noite sirva de castigo para o insensato que se mostrou disposto a ser fiador de “estrangeiros”, ou a acompanhar uma “mulher leviana”, dois atos condenados de forma específica em 6:1-5. Num provérbio de tom espirituoso, o autor nos lembra que, a princípio, o alimento roubado pode parecer suave, mas, depois, a boca se encherá de pedrinhas de areia (20:17). Encontramos uma ideia semelhante com relação à mulher devassa em 5:3-4; 9:17. É provável que o conselho de 20:18 seja dirigido ao rei. Nem todos, contudo, servem para ser conselheiros. Daí o autor alertar para que se evite o mexeriqueiro caso se deseje manter alguma informação em segredo. É interessante que 11:13-14 (cf. comentários) segue a mesma linha ao tratar da questão de pedir conselho a outros. Os dois provérbios seguintes voltam a falar de relacionamentos entre gerações. Desta vez, a lâmpada do filho infame apagar-se-lhe-á [...] nas mais densas trevas (20:20; cf. tb. 19:26). Se o filho insensato ou infame herdar a riqueza de seus pais, não se beneficiará dela, como mostra claramente o caso do filho pródigo (Lc 15:11-24). Como o dinheiro desonesto em 13:11, a herança desaparecerá em pouco tempo (20:21; cf. tb. 21:6). Nunca é certo amaldiçoar e ameaçar aqueles que, a nosso ver, nos prejudicaram. Não devemos buscar vingança, mas esperar pelo livramento do Senhor (20:22; cf. tb. 17:13; 24:29). Paulo trata da mesma questão em Romanos 12:19, em que cita as palavras do Senhor em Deuteronômio 32:35: “A mim me pertence a vingança". Com referência a 20:23, ver comentários sobre 20:10. Assim como é certo que o Senhor providenciará para que se faça justiça, também os passos do homem são dirigidos pelo Senhor (20:24; cf. tb. 16:9). Podemos, contudo, ser guiados por veredas que não compreendemos, daí a pergunta: Como, pois, poderá o homem entender o seu caminho? A resposta é que não precisamos entender tudo, mas, sim, entregar nossos caminhos ao Senhor (Pv 3:5-6; Sl 37:5,23-24). Mas o fato de os caminhos de Deus poderem ser misteriosos não nos isenta da necessidade de cuidado.
Anteriormente fomos orientados a não responder apressadamente (18:13). Se a precipitação com respeito aos negócios humanos é loucura, é loucura ainda maior quando se trata de assuntos divinos (20:25; cf. tb. Ec 5:1-7). Sobre 20:26, ver comentários em 20:8. Já o texto de 20:27 é uma grande declaração que nos desafia a nos aproximarmos de Deus em oração, pedindo que ele use sua lâmpada para esquadrinhar nosso espírito (Sl 139:23-24). Numa passagem anterior, vimos que “com justiça se estabelece o trono” (16:12) e, como 20:28 deixa claro, o trono é preservado por amor e fidelidade. Todos os estágios da vida possuem qualidades a serem celebradas. Enquanto os jovens podem orgulhar-se de sua força, os homens mais velhos têm motivo de orgulho em seus cabelos grisalhos, especialmente ao considerar 16:31 (20:29). O último dito desse capítulo é um tanto estranho e levanta a seguinte dúvida: Como é possível os vergões das feridas purificarem do mal, e os açoites, o mais íntimo do corpo? (20:30). O autor parece fazer referência à disciplina física da criança, tema ao qual Provérbios volta com frequência (cf. 13:24; 22:15; 23:13-14; 29:15). Kidner comenta: “A consciência vagarosa pode precisar desse tipo de estímulo” (TOT).
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