Provérbios 7 — Análise Bíblica

Provérbios 7

Provérbios 7 fornece uma história de advertência sobre os perigos de sucumbir à tentação sexual e às táticas sedutoras de indivíduos imorais. Salienta a necessidade de sabedoria, discernimento e integridade moral para resistir a tais tentações e evitar as consequências destrutivas do adultério. O capítulo serve como um lembrete da importância de seguir a orientação dos pais e valorizar a sabedoria ao fazer escolhas morais.

Análise

7:1-27 Encontramos aqui o primeiro capítulo dedicado inteiramente à instrução contra o adultério. Trata-se, basicamente, de uma lição prática apresentada “não por meio de generalizações, mas de forma dramática” (TOT). As exortações que antecedem o ensino são mais numerosas (7:1-5) do que as de outras passagens. Além da admoestação habitual: Guarda as minhas palavras e conserva dentro de ti os meus mandamentos (7:1), o mestre ordena: Ata-os aos dedos, escreve-os na tábua do teu coração (7:3), uma injunção conhecida (cf. 3:3). De acordo com o mestre sábio, as instruções devem ser tratadas da mesma forma que a lei mosaica (cf. Dt 6:8). Em 7:4, o mestre recomenda ao discípulo: Dize à Sabedoria: Tu és minha irmã; e ao Entendimento chama teu parente. A relação próxima que o aprendiz deve ter com a sabedoria o guardará de se ligar à adúltera: Para te guardarem da mulher alheia, da estranha que lisonjeia com palavras (7:5). (A NVI se refere a essa mulher como leviana.) Depois dos comentários introdutórios, temos a lição propriamente dita (7:6-23). Uma vez que os sábios são observadores perspicazes das interações humanas, o autor começa com uma descrição daquilo que observou: Porque da janela da minha casa, por minhas grades, olhando eu, vi entre os simples, descobri entre os jovens um que era carecente de juízo (7:6-7). A descrição dos jovens é neutra. São rapazes simples, ingênuos e inexperientes. Aquele que chama a atenção do sábio, porém, é um jovem sem juízo. O motivo dessa caracterização se toma evidente logo em seguida. Observa os passos do rapaz. Primeiro, ele se separou do grupo e veio pela rua junto à esquina da mulher estranha (7:8). Segundo, caminha à tarde do dia, no crepúsculo, na escuridão da noite, nas trevas (7:9). O comentário de Kidner é apropriado: “Caminha para a tentação, na qual o espaço (7:8) e o tempo (7:9) se unem contra ele; e, enquanto ele anda a esmo, sua tentadora tem um objetivo definido” (TOT). Os versículos seguintes descrevem a adúltera. Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e astuta de coração (7:10). Trata-se de um confronto injusto no qual o rapaz carente de juízo (literalmente “desprovido de coração”) se depara com uma mulher “astuta de coração”. O rapaz sai perdendo. Depois de descrever a inconstância e o comportamento atrevido da mulher (7:11-12), o texto diz: Aproximou-se dele, e o beijou (7:13a). Os passos da sedutora são calculados com cuidado para enredar o jovem inexperiente. Em seguida, a sedutora profere suas palavras com o mais absoluto despudor (7:13): Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer; paguei hoje os meus votos. Por isso, saí ao teu encontro, a buscar-te, e te achei (7:14-15).

Os comentaristas que a consideram uma mulher israelita associam os “sacrifícios pacíficos” aos sacrifícios descritos em Levítico 7:16-18 e observam em suas palavras uma “secularização sutil de sua religião” (TOT). Aqueles que a consideram uma estrangeira relacionam os sacrifícios e votos às suas obrigações religiosas pagãs e, mais especificamente, à prostituição que fazia parte dos cultos de fertilidade cananeus. Sejam quais forem suas origens, a mulher procura seduzir o jovem com promessas de luxúria: Já cobri de colchas a minha cama, de linho fino do Egito, de várias cores; já perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo (7:16-17). Desfere, então, seu golpe final (7:18), acompanhado da garantia de que seu marido não está em casa, saiu de viagem para longe e só retornará por volta da lua cheia (7:19-20). É interessante observar que o original hebraico traz “o homem”, enquanto a RA usa “meu marido”. Um ditado luganda (Uganda) ilustra bem esse aspecto da natureza humana. Quando alguém pergunta ao marido desconfiado quando pretende voltar, ele responde: “Quem viaja vê (o que acontecerá)”, ou seja, “Não posso dizer de imediato”. Ele não especifica quando voltará, a fim de manter sua esposa num estado de suspense para que ela não possa dizer, como a mulher nesta passagem: “Só por volta da lua cheia ele tomará”. Um provérbio amárico (Etiópia) mordaz reforça o argumento: Yalteretere temenetere (“Quem não é desconfiado é destruído”). O plano de seduzir o rapaz é bem-sucedido, pois, de acordo com o texto, ele num instante a segue (7:22). A descrição do rapaz é dramática: Como o boi que vai ao matadouro; como o cervo que corre para a rede, até que a flecha lhe atravesse o coração; como a ave que se apressa para o laço (7:22-23). Observe a última parte de 7:23: Sem saber que isto lhe custará a vida. Para entender o significado dessas palavras no contexto de Provérbios, precisamos apenas nos lembrar de 6:34-35. No AT, o adultério era um crime passível da pena de morte (Dt 22:22). O mestre sábio conclui com uma exortação dada anteriormente: Em nenhuma circunstância, seus ouvintes devem desviar-se para o caminho da mulher adúltera, pois a sua casa é caminho para a sepultura e desce para as câmaras da morte (7:27). Esta passagem (7:24-27) enfatiza que a decisão de obedecer não deve ser considerada levianamente. É uma questão de vida ou morte. Não há dúvida de que o jovem retratado na lição prática era desprovido de entendimento.

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