Deuteronômio 19 — Estudo Devocional

Deuteronômio 19 aborda o estabelecimento de cidades de refúgio e os princípios de justiça e imparcialidade em questões jurídicas. O capítulo descreve o propósito das cidades de refúgio como locais onde alguém que mata outra pessoa involuntariamente pode fugir em busca de proteção contra vingadores de sangue. Enfatiza a importância de um sistema jurídico justo e da proibição de testemunhas falsas. O capítulo também discute o conceito de “olho por olho” como princípio de justiça proporcional. Deuteronômio 19 sublinha o valor de proteger os inocentes e de fornecer um quadro jurídico justo. Leva-nos a procurar justiça e a garantir que os nossos sistemas jurídicos sejam guiados por princípios de justiça, verdade e compaixão. Também nos convida a considerar o refúgio máximo que encontramos em Cristo, que proporciona segurança e perdão para os nossos pecados.

As cidades para fugitivos
Números 35.9-29


19.1-10 não morrerá nenhum homem inocente. Este é mais um enorme avanço na qualidade social e jurídica de Israel antigo. Um homicídio é um crime gravíssimo, que afronta a imagem de Deus, transmitida para cada um de nós desde a Criação, e assim deveria ser vingado (Gn 9.5), cabendo geralmente aos parentes do falecido executar a vingança. Mas o conceito de justiça de Deus visa impedir que seja castigado alguém que involuntária ou acidentalmente tenha cometido um homicídio, o crime sem dolo, o que é um importante critério inclusive para nós hoje. Assim, elas poderiam refugiar-se em cidades designadas para esse fim, onde ninguém poderia molestá-las (veja também as recomendações em Nm 35.9-29). O país seria dividido em três partes e em cada uma delas haveria uma dessas cidades. Se o país crescesse, a quantidade de cidades deveria acompanhar esse crescimento, para que nenhum inocente ficasse muito longe do refúgio. A criação destas cidades de refúgio é para Deus algo extremamente importante, tanto que o tema é tratado três vezes: Em Nm 35, aqui e em Js 20. Nos Salmos, embora utilizando outro vocábulo hebraico, vemos que muitas vezes o próprio Deus é considerado o nosso refúgio (Sl 2.12; 7.1; 9.9; 46.1). E para nós hoje, estas cidades de refúgio também podem prefigurar a pessoa e a obra de Jesus, nosso maior refúgio. Todos nós, em nossas angústias e aflições, também podemos encontrar em Deus e no seu Salvador o refúgio para o que necessitarmos. Veja o quadro “Refúgio para a cura”.

19.10 vocês não serão culpados. Mesmo tendo sido involuntário, o crime aconteceu, e isso era muito sério para ser ignorado. Muito sofrimento foi causado para a família que perdeu um de seus membros, e também para a consciência e a vida de quem, sem querer, causou aquela morte. Então algo significativo deveria ser feito, no sentido de remediar a situação e também de evitar que a tragédia se ampliasse ainda mais com uma vingança injusta. Forçar o “homicida” a mudar-se rapidamente para a cidade de refúgio ajudava nessa “remediação”, e livrava o parente vingador da necessidade de matar. Nas instruções de Nm 35 vemos que essa pena de “exílio forçado” terminaria com a morte do sumo-sacerdote, o que provavelmente já apontava para a futura morte de Cristo em lugar dos pecadores.

19.11-12 o criminoso será morto. Para evitar que um criminoso realmente culpado se utilizasse da cidade de refúgio para encobrir o seu crime e permanecer impune, a lei seria aplicada com todo o rigor. Uma vez descoberto, ele deveria ser entregue ao vingador, preservando assim as cidades de refúgio do seu mau uso. Deduz-se desse contexto que, para Deus, a impunidade também é um crime e, como tal, é preciso evitá-la a fim de que prevaleça a confiança e a segurança social. O ensinamento aplica-se a quem tem a incumbência de legislar e julgar, para que não seja conivente com a impunidade.

19.13 Não tenham dó nem piedade. Algumas recomendações do Antigo Testamento podem parecer escabrosas aos olhos de hoje. Porém, elas devem ser entendidas no contexto cultural da época e também na perspectiva progressiva da revelação bíblica. Desde que o mal se fez presente na história humana, são necessárias medidas efetivas para contê-lo. O desrespeito à vida, a disputa pela posse da terra e a calúnia são algumas das suas manifestações. Na medida em que se organizavam, as sociedades aprimoraram seus métodos punitivos. As punições, como aqui se vê, tinham o objetivo principal de desestimular as práticas violentas. Fala-se mesmo em banir o mal, encarnado pela pessoa criminosa. Desafortunadamente, o máximo que se consegue pelo caminho da repressão é um “remendo”, provando que as leis são insuficientes para remover todo o mal. Isso serve, na sequência da narrativa bíblica, para nos apontar Jesus Cristo como a solução final de Deus para toda a tragédia humana.

19.14 Não mudem de lugar os marcos. Mudar os marcos de divisa do terreno com a intenção de aumentar a sua propriedade prejudicando o vizinho, é uma prática comum entre donos de terra inescrupulosos, e fonte frequente de conflitos. Para Deus, respeitar o marco territorial existente é um dever sagrado e extremamente relevante.

As testemunhas
19.15-21 duas testemunhas para confirmar. Nada deveria ser julgado pela aparência ou por “ouvir dizer”, o julgamento deveria repousar sobre bases sólidas. Daí a necessidade de mais de uma testemunha para a confirmação da culpa, ficando explicitado que a falsa testemunha seria punida com o mesmo castigo que ela queria para o acusado. Isso deixa claro o rigor contra o julgamento passional com base numa falsa testemunha, dessa forma procura-se evitar o mal entre o povo de Deus.

Refúgio para a cura
As pessoas só ficavam protegidas nas cidades de refúgio enquanto permaneciam dentro delas, enquanto se submetessem a essa regra. Traçando um paralelo, vemos que na vida emocional também é assim: submeter-se a uma disciplina em si não nos cura, mas nos coloca num lugar onde a cura pode acontecer. Se estivermos sempre correndo, fugindo do “vingador”, não poderemos sarar. Mas se buscarmos ajuda de forma organizada — como num tratamento de psicoterapia, por exemplo — e nos submetermos e persistirmos nesse processo, teremos um lugar seguro, tal como a cidade de refúgio, e assim teremos tempo, ajuda e oportunidade para sarar. Não por acaso, todas as cidades de refúgio eram também cidades que foram dadas aos levitas para morarem no meio do território das outras tribos. O refugiado, então, seria avaliado e acolhido por pessoas isentas, não aparentadas nem com ele nem com a vítima, e que de certa forma lhe serviriam de “ministros da presença acolhedora de Deus”, que também é uma bela figura para o processo terapêutico.

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