Estudo sobre Efésios 3


4) Esse mistério antes era um segredo (3.1-6)
Tendo mostrado o que é a grandeza de Deus ao ressuscitar Cristo e constituir a igreja, seu corpo, Paulo começa agora a expor algo das riquezas da glória dessa herança. Ele começa expressando isso em uma oração, mas de forma típica é desviado por suas próprias palavras, prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vocês, gentios, e só volta à sua oração no v. 15.
Paulo não era prisioneiro de César; era a vontade de Cristo que o mantinha cativo (4.1). Foi por causa da sua batalha a favor da liberdade dos gentios em relação à lei que ele se emaranhou com Roma. A sua parte na administração das coisas de Deus (Cl 1.24,25) era revelar e explicar os planos de Deus para a inclusão dos gentios na igreja, sem lei ou circuncisão. Isso o tinha levado a conflitos com os judaizantes (que eram “zelosos pela lei”) e finalmente com Roma (2Tm 2.9; 4.16,17). Pois se os crentes gentios eram declarados não-judeus, então eles ficavam sujeitos às penalidades da lei romana por religião ilegal. Enquanto fossem considerados seita judaica (At 28.22) eram imunes a essa lei e à pena de morte. O que ele tinha escrito em poucas palavras, de forma resumida (em 1.9 ou 1.3,4), mostrou a sua percepção abrangente do propósito secreto de Deus, oculto de dispen-sações anteriores, mas agora revelado a um grupo de homens inspirados. O v. 6 é uma repetição em forma tríplice daquela parte do segredo que diz respeito aos gentios. Que os gentios deveriam ser abençoados, foi claramente revelado no AT, mas que eles deveriam ser abençoados sem se tornarem judeus era algo imprevisto, como também era o fato de que Deus introduziria uma coisa nova, o corpo de Cristo. Agora eles compartilham da herança, são igualmente membros do corpo de Cristo, a igreja, e a promessa agora é estendida a eles também (G1 3.29).

5)  O significado do apostolado de Paulo (3.7-13)
Paulo era um mensageiro especial da boa notícia que desvendou esse segredo, enviado para tornar claro o propósito de Deus para os gentios, para fazer demonstração disso diante de todos os homens e de todo o cosmo. Paulo faz uma apresentação do dom que o capacitou a ser ministro do mesmo poder da ressurreição mencionado anteriormente, 1.19 e cf. G1 2.8. Ele usa um comparativo-superlativo, menor dos menores, para expressar a sua total incapacidade para a obra. Ele (a) evangeliza os gentios, (b) ilumina todos os homens, (c) com o fim de informar todo o mundo sobrenatural. Ele descreve o evangelho como a riqueza insondável de Cristo. A iluminação é o plano que se manteve em segredo durante todas as eras anteriores (Cl 1.25-27), mas é inerente à criação do Universo. A informação está exposta na igreja, em que todas as inteligências celestiais podem ver a multiforme sabedoria de Deus. Os anjos perplexos pela liberdade espantosa concedida a Satanás e aos homens podem agora inocentar Deus, ao perceberem o claro e definido propósito de Deus em todas as eras agora revelado no Messias, tanto nele pessoalmente quanto nos seus membros de forma coletiva, v. 12. A fé em Cristo nos concede livre acesso a Deus, em virtude de sermos agora filhos (1.5) com base na redenção. Em vista de tudo isso (v. 2-12, o privilégio de Paulo, o plano maravilhoso e a proximidade do próprio Deus), os leitores não deveriam ficar desanimados em virtude das provações e das cadeias de Paulo. Tudo isso era motivo de alegria para ele (Cl 1.24) e deveria ser considerado por eles algo em que se gloriassem. Muitas pessoas pensavam de maneira diferente, porque não enxergavam a situação como ele a enxergava, ou então, como os judaizantes, que enxergavam a situação com clareza demasiada.

6) Oração por capacitação espiritual (3.14-21)
Retomando a idéia de 3.1, ele ora para que o poder (1.19) que mudou totalmente a posição deles diante de Deus (2.1-22) possa agora agir neles de forma crescente até que a intenção plena de Deus seja realizada.

Em reverência profunda, Paulo oferece essa oração particular ao Pai, patêr, “do qual se deriva toda a paternidade” (nr. da NVI) — toda patria — grupo que descende de um ancestral comum. A igreja é uma família de forma bem singular, ao compartilhar a vida e a natureza dele. Ele usa a fraseologia dessa oração original, 1.18,19, tanto com referência às riquezas quanto ao poder, e agora aplica estes ao homem interior (2Co 4.16), por intermédio da obra do Espírito. A alteração da posição deles havia sido instantânea, mas a transformação moral é progressiva, de cinco maneiras: (a) por meio do fortalecimento da vida espiritual interior; (b) por meio da habitação de Cristo no coração deles. K. S. Wuest amplia o significado da palavra para “estabelecer-se e sentir-se completamente em casa”. Cf. G1 4.19; (c) por meio desse sólido firmamento de amor que provê o poder para a compreensão. “Lançar mão de”, não mera apreensão mental, mas a real aquisição. É a compreensão dessa plenitude que é o alvo da igreja (1.23; 3.19; 4.13). Só atingimos isso em comunidade, com todos os santos, pois cada indivíduo tem somente a sua medida finita; (d) por meio da experiência do amor de Cristo. Saber o que está além do conhecimento é um paradoxo que enfrenta uma experiência sempre mais ampla; (e) por meio do sermos cheios de toda a plenitude de Deus, uma conclusão que explica Jo 17.20-23, i.e., a igreja revelando Cristo na sua plenitude divina. Se o mar fosse enchido com contêineres vazios, os contêineres se encheriam com a plenitude do mar. Que Deus tenha tido um propósito tão incrível para o homem requer, sem dúvida, uma doxologia (v. 20,21). Nela Paulo destaca novamente a imensidão do poder em ação nos santos para atingirem o seu alvo, o que é infinitamente mais do que o homem poderia pedir para si ou mesmo imaginar. Haverá, então, glória infinita para Deus por meio da igreja, e isso será também um meio de exposição de todas as glórias de Cristo.