Estudo sobre Gênesis 17

Gênesis 17: A aliança com Abraão

O capítulo relata um desenvolvimento adicional que, no nível narrativo, adia mais uma vez o cumprimento da promessa dos filhos a Abrão e Sarai. Este episódio é a versão de P do incidente contado por J no capítulo 15. Treze anos se passaram desde o nascimento de Ismael, quando o Senhor aparece novamente a Abrão e começa com uma introdução formal, e então muda o nome de Abrão para Abraão para refletir seu papel como pai de Abrão. nações. Os termos do acordo exigem algo de ambas as partes. Deus repete a promessa de descendentes e terras, e promete ser o Deus deles. O povo é instado a guardar a aliança, isto é, a aderir aos termos do relacionamento divino-humano, e espera-se que todos os homens sejam circuncidados. As origens desta exigência, apresentadas com algum detalhe, são intrigantes para nós, mas foram sem dúvida compreendidas pelos povos antigos. O que sabemos é que as pessoas que viviam no exílio na Babilónia durante o século VI a.C. consideravam a circuncisão como um sinal de sua identidade como exilados de Judá, em contraste com os babilônios, que não a praticavam. De acordo com a teoria de que os escritores e editores sacerdotais viveram e trabalharam na Babilônia durante o exílio, é bem possível que isso tenha se tornado um importante sinal de identidade naquela época.

Sarai também recebe de Deus um novo nome, Sara, confirmando que ela será a mãe do filho prometido. A incredulidade, o espanto e a alegria de Abraão ao ouvir a promessa provocam a sua reação maravilhosamente humana, que é ainda mais comovente porque até então a sua resposta foi simplesmente fazer o que lhe foi pedido. Sua risada prenuncia o nome de seu filho prometido: Isaque, ou “riso”. Mas ele permanece incrédulo e dá a Deus uma proposta alternativa, para fazer de Ismael o favorecido. Esta sugestão dá a Deus a oportunidade de esclarecer que Ismael receberá a bênção divina e a promessa de uma grande nação; mas o filho da aliança será Isaque, que Sara dará à luz dentro de um ano.

O anúncio divino de que o nascimento da criança ocorrerá dentro de um ano aproxima a promessa um passo mais do cumprimento. Em seguida, a narrativa relata que Abraão circuncida todos os homens de sua família como o Senhor ordenou. Esta breve nota ilustra mais uma vez a obediência inabalável de Abraão aos mandamentos de Deus. Os vívidos detalhes narrativos característicos de J são combinados com a solene descrição de P da circuncisão como a marca do povo do Senhor.

O modelo de promessa do tipo mãe estéril reaparece neste episódio. O Senhor aparece a Abraão (ainda Abrão no início do episódio), prometendo gerações de descendentes nos versículos 2-10. Então, no versículo 16, Deus anuncia explicitamente que Sara será a mãe da criança. Em resposta à resposta incrédula de Abraão, Deus reitera a promessa e dá um nome ao filho prometido. Mas vários outros eventos devem ocorrer antes que a criança nasça.

Notas Adicionais
17.1-27
O cap. 17 dá um passo em direção ao nascimento do filho da promessa. As promessas de Deus se tornam cada vez mais claras e detalhadas; e o mesmo ocorre com as suas exigências. Os pólos gêmeos da promessa e da obrigação, do privilégio e da responsabilidade, são resumidos na palavra aliança (v. 2). Surge a pergunta: qual é a relação entre os caps. 15 e 17? Os dois relatam o estabelecimento de uma aliança entre Deus e Abrão. Afirma-se com frequência que são relatos paralelos, que se originaram de fontes ou tradições literárias diferentes. Mas, independentemente da posição que se tome em relação às fontes literárias de Gênesis, o autor certamente construiu as duas narrativas como eventos separados, em vista da cronologia bem elaborada que ele oferece ao leitor, e é mais satisfatório considerar o cap. 17, do mesmo modo que Kidner, como um segundo estágio da aliança divina com Abrão. O cap. 17 pode ser chamado de renovação de aliança, assim como Js 24 registra uma renovação da aliança sinaítica.

17:1-8. Deus mais uma vez apareceu a Abrão e se dirigiu diretamente a ele; essa experiência direta poderia ser considerada profética (cf. 20.7). As promessas divinas anteriores são repetidas e confirmadas; mas a grande diferença em relação ao cap. 15 consiste na obrigação colocada sobre Abraão já no início: “ande segundo a minha vontade e seja íntegro”. As duas determinações podem ser combinadas; o seu significado é “obedeça-me em tudo” com relação às ordens da aliança (isso não era algo moralmente impossível; cf. Fp 3.6).

Evidentemente, há algo de especial nesse capítulo. Em primeiro lugar, Deus se revelou com um novo nome. Deus todo-poderoso, heb. El Shaddai (v. 1). A origem e o significado exatos do nome Shaddai continuam obscuros, mas a ênfase pode muito bem estar no poder e na grandeza, como em geral tem sido destacado nas traduções existentes. A expressão difere de outros títulos divinos semelhantes usados em Gênesis no aspecto de que não pode ser associada a nenhuma localidade específica; por isso o título parece descrever Deus na sua função de poderoso ajudador dos patriarcas nas suas peregrinações seminômades (Êx 6.3). Nesse contexto, ele é identificado como o nome da aliança; e, ao mesmo tempo, Abrão recebe uma nova forma do seu nome, pois o seu nome da aliança deve ser Abraão (v. 5). Essa mudança, como também a de Sarai para Sara (v. 15), não indica nenhuma alteração de significado; antes, a mudança de língua ou de dialeto. As duas formas significam “o pai é exaltado” (cf. DTAT, “Abraão”), mas a forma mais longa permite um jogo de palavras que faz referência a muitas [nações] (heb. hamõn, v. 5).

17:9-14. o sinal da aliança (v. 11), i.e., a marca da obediência pelo lado humano deve ser a circuncisão. As origens desse ritual entre outros povos estão perdidas na névoa da Antiguidade, mas era normalmente um ritual de passagem para a puberdade ou o casamento (observe a idade de Ismael, v. 25). A marca distintiva na prática judaica, com base na aliança abraâmica, é o seu elo com a primeira infância (oito dias de idade, v. 12). Dessa forma, uma criança judia nasce para a aliança assim como nasce para a comunidade judaica. A circuncisão tornou-se especialmente importante durante e após o exílio babilônico. É interessante observar que essa aliança já estava aberta para outras pessoas além dos descendentes de Abraão (v. 12), e, ao mesmo tempo, que os seus descendentes poderiam ser eliminado\s\ do meio do seu povo se não fossem circuncidados (v. 14). A circuncisão, portanto, não simbolizava uma afinidade ou parentesco social, mas a obediência às ordens de Deus.

17:15-21. Mais uma vez, o tema do filho prometido é retomado, e finalmente se revela que Sarai, agora chamada Sara, deve ser a mãe (v. 15,16). O nome nas duas formas significa “princesa”, e, assim como Abraão, ela também vai dar à luz reis de povos (v. 16; cf. v. 6). Também é revelado que o nascimento do tão esperado filho vai ser no ano que vem (v. 21), e Abraão recebe a orientação de chamá-lo Isaque (v. 19). Esse nome significa “Ele [i.e., Deus] ri”, ou, como deveríamos dizer, “está sorrindo para ele”. Observa-se a importância desse nome várias vezes nesses capítulos; aqui é Abraão que ri, incredulamente surpreso (v. 17). O leitor é lembrado também do significado de Ismael, “Deus ouve”, no v. 20. Os dois nomes servem para distinguir o futuro dos dois meninos e a sua linhagem: Deus ouviu (“eu te ouvi”, ARA) o apelo de Abraão acerca do seu primogênito, e Ismael não será negligenciado por Deus nem desprezado pelos homens — antes, um grande prestígio internacional o aguarda; mas o filho de Abraão para quem Deus vai sorrir é Isaque, pois somente ele vai herdar as bênçãos incomparáveis do relacionamento de aliança eterna com o próprio Deus (v. 19).

17:22-27. O sinal da aliança, a circuncisão, é agora implantado. Destaca-se que esse sinal não está limitado aos descendentes da promessa. Essa ênfase não somente reflete o fato histórico de que os ismaelitas e árabes também praticaram a circuncisão, mas também abre a porta da aliança para aqueles que são gentios (cf. Rm 4.9-12).

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