Estudo sobre Gênesis 4

Gênesis 4: O primeiro assassinato

A história da humanidade continua com o nascimento de Caim e Abel até Adão e Eva, como Deus prometeu após o primeiro pecado. A aceitação divina do sacrifício de Abel, mas não do sacrifício de Caim, é preocupante, pois parece mostrar que Deus tem favoritos. Não sabemos como os irmãos sabem se o seu sacrifício foi aceito, nem sabemos por que Deus rejeita o sacrifício de Caim. Talvez o fato de Abel oferecer os primeiros de seu rebanho, enquanto Caim oferece os primeiros de suas colheitas, ateste a grande consideração que os pastores tinham no século XI, quando a história provavelmente foi escrita. O ponto principal da história, porém, está na reação de Caim à rejeição divina de sua oferta. O discurso do Senhor para ele sugere que rejeitar a oferta de Caim não significa de forma alguma a rejeição divina do próprio Caim. A tarefa de Caim é fazer o que é certo, em vez de dar ao pecado uma chance de dominá-lo.

A resposta de Caim é matar seu irmão, violando a fronteira divino-humana ao tentar exercer controle sobre a vida e a morte. A pergunta divina que se segue no versículo 9 nos lembra da pergunta feita a Adão em 3:9: “Onde estás?” Aqui o Senhor pergunta a Caim: “Onde está seu irmão Abel?” destacando a alienação que resulta do pecado (4:9). A questão divina responsabiliza Caim pelo bem-estar de seu irmão Abel. A resposta desdenhosa de Caim ilustra sua indiferença pelo irmão e seu desrespeito pela divindade. A punição do Senhor a Caim é um exemplo de lex talionis, a lei de retaliação que especifica que a punição deve se adequar ao crime tanto em tipo quanto em grau: deve estar relacionada ao mal que foi cometido e deve ser igual e não exceder a quantidade de mal que foi feito. Caim não poderá mais subsistir como agricultor porque violou o próprio solo em que trabalha. Tal como aconteceu com Adão e Eva, Deus pune Caim, mas não o abandona, marcando-o para proteção especial.

4:17-24 Nota genealógica

A nota genealógica que segue nos versículos 17-24 mostra que Caim tem várias gerações de descendentes que desenvolvem diferentes profissões importantes para a civilização.

4:25–5:32 Descendentes de Adão

A narrativa retorna para Adão e Eva, relatando que eles têm mais filhos. O comentário de que as pessoas então começaram a invocar o Senhor pelo nome é intrigante porque parece ser muito cedo: o Senhor revela o nome Yhwh a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14), muito depois da época dos primeiros humanos. Pode refletir as práticas religiosas do século XI, quando a passagem foi provavelmente escrita. Também atesta o início dos atos formais de adoração, associando-os aos descendentes de Adão desde os tempos mais remotos.

Uma genealogia detalhada registra a linhagem de Adão até os três filhos de Noé: Sem, Cão e Jafé. A narrativa aponta que o povo é feito com as mesmas características dos primeiros humanos: à imagem de Deus, homem e mulher, e abençoado. A lista no capítulo 5 inclui muitos dos mesmos nomes que encontramos em 4:17-24, mas não são idênticos. As listas representam diferentes tradições, ambas preservadas quando as histórias foram escritas. A lista no capítulo 5 envolve dez gerações de Adão a Noé, um número que é paralelo ao número de gerações de Noé a Abraão no capítulo 10. Não podemos saber a idade precisa dessas pessoas primitivas, em parte porque não sabemos como elas surgiram. tempo calculado e em parte porque as idades não são realistas pelos cálculos modernos. A esperança de vida hoje é a mais longa de sempre, mas não se aproxima das idades aqui registadas. As eras destacam a passagem de muito tempo após a criação, durante o qual os humanos prosperaram, mas também pecaram. O versículo 29 destaca Noé, identificando-o como aquele que reverterá a maldição da terra que começou com Adão em 3:17-19 e continuou com Caim em 4:10-12.

Notas Adicionais

4.1-16
Agora passamos a conhecer uma série de eventos que nos mostram quão rapidamente os resultados da Queda são revelados. Como foi dito em 3.7, os primeiros efeitos do pecado foram observados na família, e é em harmonia com isso que o primeiro homicídio é um fratricídio.

O homicídio ocupava uma posição singular entre os pecados do AT. E o único para o qual é ordenada de forma universal a pena capital, totalmente à parte da lei do Sinai (9.6). A razão principal disso é que é o único ato para o qual a reparação não é possível, pois a vida é uma dádiva de Deus. Até mesmo tirar a vida de um animal para servir de comida deveria reconhecer esse princípio (9.4).

4:1. com o auxílio do Senhor tive um filho homem: comentários medievais, assim como alguns comentários posteriores, entendiam que as palavras de alegria de Eva significavam: “Eu recebi um homem, até Javé”, como se ela estivesse pensando que Caim fosse o cumprimento da promessa de 3.15. Isso é muito improvável, embora seja uma tradução possível do hebraico. Por outro lado, o seu reconhecimento de que o seu filho era uma dádiva de Javé mostra a sua confiança crescente em Deus (cf. 4.25).

As ofertas dos irmãos (v. 3-7). Não há menção de tensão anterior entre os dois irmãos. Veio o dia em que apresentaram uma oferta (minhãh) a Javé. A palavra usada significa um presente, dádiva, e é o termo geralmente usado para o tributo entregue a um governante. Não deveríamos impor sobre os sacrifícios dos irmãos nenhum significado redentor, cf. 8.20; eles eram o reconhecimento da soberania de Javé. Os dois deram do que tinham, e assim Leupold certamente está correto quando diz: “Os que enxergam o mérito do sacrifício de Abel no fato de que era de sangue certamente o fazem sem a mínima base no texto”. Não lemos no texto como Caim descobriu que o seu sacrifício não havia sido aceito. A razão da rejeição está sugerida no v. 7: “Se você fizer o bem”. E provável que ele se negasse a aceitar o senhorio de Deus (cf. v. 13).

O hebraico do v. 7 é de difícil compreensão, mas pode-se afirmar que o sentido geral é dado pela BJ quando considera o pecado um animal faminto e voraz. E digna de menção a tradução de Speiser: “o pecado é um demônio à porta”.

4:8. Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: “Vamos para o campo''', i.e., o campo aberto. Esse acréscimo (vamos para o campo) ao TM é exigido pelo uso lingüístico do hebraico e tem apoio no PS, LXX, Vulgata e Versão Siríaca. Sugere que o homicídio de Abel foi premeditado.

A resposta de Caim à pergunta de Deus (v. 9) mostra que ele havia perdido a percepção de nudez que Adão teve diante de Deus (3.10). Que Caim não teve remorso algum fica claro pela sua sugestão de que Deus estava sendo injusto com ele (v. 13). A colocação de um sinal, não especificado, em Caim (v. 15) não entra em contradição com o que foi dito anteriormente acerca da natureza obrigatória da pena de morte pelo homicídio. O sangue de Abel estava clamando por vingança diante de Deus (v. 10) e por isso a iniciativa pela vingança não era responsabilidade de outros.

4:16. na terra de Node. i.e., a terra da peregrinação, terra de nômades, v. 17. Caim teve relações com sua mulher, não há razão para se questionar a explicação tradicional de que ela era sua irmã (cf. 5.4). fundou uma cidade (‘ir): embora a NVI em geral tenha mantido o termo “cidade” para ‘ir, ele na verdade significa um assentamento fortificado, independentemente do tamanho. Evidentemente, um bom número de conhecidos de Gaim o seguiu. Esse é mais um passo escada abaixo. Se o muro era uma proteção de possíveis inimigos ou de feras selvagens, os que deveriam dominar mostram o seu medo de serem dominados.

Os descendentes de Gaim (4.17-24)
Embora, em virtude do Dilúvio, os descendentes de Caim não viessem a ter papel decisivo na história da humanidade, essa lista genealógica mostra que Deus não os esqueceu; são incluídos no escopo da salvação de Deus tanto quanto outros que morreram antes da época do Salvador.

A menção do desenvolvimento das artes e das habilidades profissionais dos artífices parece sugerir que os efeitos do conhecimento do bem e do mal se tornaram especialmente evidentes entre os descendentes de Caim.

4:19. Lameque: aqui temos a primeira menção de poligamia que, ao contrário de opiniões superficiais e populares, é muito menos frequente no AT do que muitas vezes se supõe. Quando a encontramos, geralmente há uma razão que parece válida para a ocorrência específica, mas aqui não há sugestão disso. Lameque não está exigindo uma vida por uma vida, mas uma vida por um golpe (cf. Ex 22.23,24), e ainda reivindica sanção divina para o seu ato.

 O relato dos descendentes de Caim é interrompido aqui, pois Lameque é a explicação suficiente para o desaparecimento deles.

Sete e seus descendentes (4.25— 5.32) A adoração a Javé (4.26). A erudição moderna em geral nega a possibilidade de ter existido a adoração a Javé num período tão antigo e se fundamenta em Êx 3.13,14; 6.3; mas cf. Speiser, p. 37. Se os registros recuperados pela arqueologia contêm alguma menção do nome de Javé, é na melhor das hipóteses uma forma abreviada. A explanação mais plausível parece a apresentada por Martin Buber (p. 48-55), de que um chamado sagrado primitivo recebeu um significado mais amplo e completo na sarça ardente.

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