Estudo sobre Gênesis 25

Gênesis 25: A morte e sepultamento de Abraão

O capítulo 25 começa com um resumo genealógico dos descendentes de Abraão através de sua segunda esposa, Quetura. Especifica que Isaque recebe toda a sua herança (ver 24.36); mas Abraão fez acordos com seus outros filhos e os enviou para o leste. Este arranjo honra o seu relacionamento com todos os seus filhos e, ao mesmo tempo, protege as promessas divinas e o estatuto especial do seu filho Isaque, que levará a promessa à próxima geração.

Abraão morre, deixando todos os seus negócios em ordem. Seus filhos Isaque e Ismael o enterram ao lado de sua esposa Sara. Outra nota genealógica lista os doze filhos de Ismael, que se tornam chefes tribais. A narrativa então registra a morte de Ismael e dá a extensão do território em que vivem seus descendentes, em cumprimento da promessa em 21:13. Esta seção conclui o relato da vida de Abraão e Ismael. Agora retoma o fio da vida de Isaque no momento de seu casamento com Rebeca e do início de uma nova geração que levará adiante as promessas divinas de descendentes e de terra.

25:19-28/ Os nascimentos de Esaú e Jacó
As histórias sobre Isaque são muito menores do que aquelas sobre Abraão. Muitos deles estão incorporados nas narrativas sobre seu pai Abraão e seus filhos Jacó e Esaú. O relato de Isaque continua o tema da promessa divina de descendentes e de terras. Na narrativa reaparecem as cenas do tipo noivado e mãe estéril, assim como o motivo esposa-irmã. Além disso, encontramos aqui outro motivo que ocorre em todo o Gênesis: o do mais jovem antes do mais velho. Discutiremos isso à medida que chegarmos a eles nas histórias de Isaque.

Após uma breve nota genealógica, aprendemos que Rebeca, como Sara antes dela, é estéril – uma ameaça imediata à promessa, tal como na saga de Abraão e Sara. Desta vez, a falta de filhos é rapidamente superada quando Isaque ora a Deus e Rebeca fica grávida. Sua gravidez, porém, não ocorre sem dificuldades. Ela carrega gêmeos que se acotovelam no útero, tornando sua gravidez muito desconfortável. Rebeca leva sua preocupação ao Senhor, e a resposta divina confirma que ela dará à luz gêmeos que gerarão nações opostas; na verdade, a tensão entre eles já começou no ventre de Rebekah. O Senhor informa a Rebeca que o mais velho servirá ao mais novo, um arranjo incomum nas antigas famílias do Oriente Próximo.

A história segue o enredo da cena tipo mãe estéril: Rebeca, sem filhos, tem um filho (Jacó) e toma medidas para garantir seu sucesso. Este relato segue o modelo do pedido, em que Isaque pede a Deus um filho para sua esposa, e o Senhor atende seu pedido. A história também alude ao modelo de competição, na luta entre os dois meninos. Rebeca não tem esposa rival, mas carrega a discórdia entre os dois filhos antes mesmo de eles nascerem. A resposta divina à sua oração diante da difícil gravidez explica o conflito, confirma que é de origem divina e anuncia a inversão de papéis entre os dois irmãos. Esta palavra divina constitui o pano de fundo para todas as ações de Rebeca para garantir o sucesso de seu filho mais novo, Jacó.

Além disso, a história alude ao modelo de promessa na explicação divina a Rebeca enquanto seus filhos ainda estavam em seu ventre. A tríplice promessa anuncia que a tensão entre os dois meninos continuará ao longo de suas vidas: formarão duas nações diferentes; eles lutarão pelo poder; e seus papéis na família serão invertidos.

Quando os gêmeos nascem, Esaú vem primeiro, seguido por seu irmão Jacó. Seus nomes prenunciam as características que definem cada um: Esaú é peludo e avermelhado, e Jacó é o que segura o calcanhar. Com suas personalidades contrastantes, os dois atraem pais diferentes: Esaú, o impetuoso homem da vida ao ar livre, é o favorito de seu pai, enquanto sua mãe prefere Jacó, o metódico e conivente morador de tendas.

25:29-34 Esaú vende seu direito de primogenitura
A primeira ilustração das personalidades contrastantes dos meninos ocorre quando Jacob está preparando um ensopado. Esaú se refere a isso como “coisa vermelha”; a narrativa chama isso de guisado de lentilha (v. 34). Lembramos que quando Esaú nasceu ele era avermelhado, provavelmente uma referência a uma tez avermelhada (v. 25). Aqui a cor do guisado chama a sua atenção; talvez ele pense que contém sangue, o que agradaria ao gosto de seu caçador. Na verdade, a cor vem das lentilhas, o que agradaria a um vegetariano.

Jacó aproveita a oportunidade para fazer um acordo com seu irmão e concorda em dar-lhe uma tigela de ensopado em troca do direito de primogenitura de Esaú. Esta é uma negociação difícil, considerando a desigualdade da compensação. Destaca tanto a personalidade intrigante de Jacó como a total falta de preocupação de Esaú por um assunto com implicações a longo prazo. Também prenuncia o engano de Jacó sobre seu pai Isaque quando ele organiza o recebimento da bênção destinada a seu irmão Esaú no capítulo 27.

Notas Adicionais
25.1-18 A história de Abraão agora chega ao final, com o relato de sua morte e a lista completa da sua descendência. Ele havia vivido exatamente cem anos em Canaã (v. 7; cf. 12.4) e mudado a configuração política daquele lugar e dos países vizinhos, embora os resultados definitivos estivessem ainda muito distantes no futuro. O livro de Gênesis divide toda a humanidade em três grupos (cf. cap. 10); mas fornece um outro tipo de divisão tripartite para a Palestina e terras adjacentes. Um grupo consistia nos antigos habitantes da região (cananeus, hititas etc.); o segundo consistia nos diversos povos e tribos descendentes de Abraão; e, por derradeiro, — mas de forma nenhuma o último em importância — havia o próprio povo de Israel, o grupo de descendentes de Abraão mais importante. Capítulos anteriores já nos apresentaram diversos representantes da primeira categoria; o cap. 25 agora faz uma lista numerosa de grupos étnicos da segunda categoria. Essa categoria, por sua vez, tem três subdivisões: a descendência de Quetura (v. 1-4); a descendência de Ismael (v. 12-18); e, por último, os edomitas, que eram descendentes de Esaú (v. 30). Todos estes seriam futuros habitantes do norte e do sul da Arábia.

Quetura (v. 1) não havia sido mencionada anteriormente, mas a posição dela parece ter sido a mesma de Hagar (concubina, v. 6); e podemos muito bem supor que essa união, como a de Abraão com Hagar, ocorrera numa época bem anterior da vida de Abraão. (Observe que o parágrafo não é datado de forma alguma.) Foi Isaque (v. 5,11) quem recebeu a bênção completa, mas nenhum filho de Abraão ficou de mãos vazias (v. 6). Os descendentes de Ismael, no entanto, escolheram viver “separados” (cf. o v. 18 na NTLH), em cumprimento de 16.12.

Aqui começa uma nova e importante seção de Gênesis, com o refrão “Estas são as gerações de...” (numa tradução literal): Isaque é agora a personagem central, e, à medida que a atenção do leitor é dirigida a ele, logo fica claro que os mesmos princípios de soberania, governo e escolha divinos estão em ação. Rebeca é estéril (v. 21), como Sara havia sido antes dela; e da mesma forma que a escolha divina tinha evitado Ismael para favorecer Isaque, o filho mais novo, agora o irmão gêmeo mais velho é inferior ao irmão mais novo (v. Rm 9.6-13). Há uma diferença, no entanto: os descendentes de Esaú, os edomitas, se tornariam muito mais intimamente associados a Israel do que jamais Ismael seria (os edomitas de fato se tornariam servos de Israel; cf. v. 23, uma profecia que se cumpriu pela primeira vez no reinado de Davi); e, em segundo lugar, o próprio Esaú, ao contrário de Ismael, tomou a iniciativa de abrir mão do direito de filho mais velho (v. 31), ou seja, da grandeza territorial e da supremacia política para os seus descendentes.

As descrições de Jacó e Esaú prefiguram as características gerais dos seus descendentes em diversos aspectos, como a ocupação típica e a aparência física dos edomitas. Seus nomes são também simbolicamente adequados. O nome Jacó (v. 26) provavelmente significava, lit., “ele (Deus) protege”; mas o tema do engano e da traição (cf. nota de rodapé da NVI) e a menção de calcanhar (a expressão hebraica ba‘aqêb é muito parecida com o nome Ya‘qõb) são considerados implícitos no nome. Da mesma forma, o fato de que Edom denota “vermelho” está associado com a predileção de Esaú por ensopado vermelho. Os direitos de herança do filho mais velho eram negociáveis naquela época; mas vendê-los por tão pouco foi um sinal evidente de desprezo por eles. O caráter de Jacó, obviamente, não era de todo admirável, mas pelo menos ele pensava com seriedade no futuro — um sinal de fé (cf. Hb 11.8ss, 21); foi tolice completa por parte de Esaú viver somente para o momento.