Estudo sobre Gênesis 41

Gênesis 41: A exoneração de José

O dom de José de interpretar sonhos continua a ser útil para ele. Desta vez é o Faraó quem tem um sonho perturbador. Inclui vários elementos ameaçadores: o Nilo, do qual todas as pessoas dependem para a subsistência, e também as vacas que figuram com destaque na economia do povo. Envolve o número sete, um número que denota conclusão. Além disso, mostra as sete vacas insalubres comendo as saudáveis. Então, como aconteceu com o sonho anterior de José, segue-se um segundo, confirmando a mensagem do primeiro. Este também envolve um item de subsistência, o milho, o número sete, e os não saudáveis consumindo os saudáveis. O Faraó convoca seus mágicos para interpretar o sonho. Quando eles não conseguem fazer isso, o copeiro finalmente se lembra de José.

O versículo 14 expressa a urgência da situação na rápida sucessão de ações preparatórias. Quando Faraó explica sua necessidade a José, José rapidamente aponta que é Deus, e não ele mesmo, quem interpreta os sonhos. Ele repete isso mais três vezes em sua conversa com o Faraó. Faraó relata os sonhos a José, acrescentando detalhes que destacam sua ansiedade. Por exemplo, ele diz sobre as vacas: “Nunca vi espécimes tão ruins como estes em toda a terra do Egito!” (41:19).

José imediatamente explica ao Faraó que os sonhos são uma revelação de Deus sobre o que os próximos quatorze anos trarão: sete anos de fartura, seguidos de sete anos de fome severa. Joseph oferece um plano para se preparar para a fome que se aproxima, armazenando o excedente durante os sete anos de abundância para ajudar o povo durante os anos de fome iminentes. Faraó fica tão impressionado com o sábio conselho de José que o torna o segundo no comando, atrás apenas de si mesmo, esperando que Deus cuide do Egito através de José (vv. 37-41). Há aqui uma declaração implícita de fé em Deus: o Faraó confia no Deus de Israel, e não nas divindades egípcias, para ajudá-los a superar a crise iminente.

Segue-se uma cerimônia de instalação, começando no versículo 42. Mais uma vez, as roupas influenciam a história quando o Faraó veste José com os ornamentos de sua posição: anel de sinete, vestes de linho e uma corrente em volta do pescoço. Os três itens são um flashback da história de Tamar: selo, cordão e cajado eram a identificação de Judá; aqui o selo, a corrente e o manto de linho são os sinais do cargo do Faraó. Em seguida, ele faz um passeio público em uma carruagem real, provavelmente puxada por cavalos. Esta é a primeira menção do veículo na Bíblia. O significado da saudação, “Abrek!” Não é conhecido; é semelhante a uma palavra egípcia que significa “Atenção!” O novo nome de José é egípcio e foi interpretado de diversas maneiras relacionadas ao seu dom de interpretar sonhos ou à sua nova posição na corte do Faraó. Seu casamento faz dele membro de uma família nobre (41:45). José implementa seu plano de armazenar alimentos durante os tempos de fartura para que estejam disponíveis nos tempos de fome. O excedente é enorme, além da medida. Durante o tempo de prosperidade, José teve dois filhos, Manassés e Efraim (vv. 50-52), cujos nomes se relacionam com as dificuldades passadas e as circunstâncias atuais de José. Então chega a fome, conforme previsto, e o Faraó confia em José para distribuir o excedente de grãos para que todos tenham bastante o que comer. Eventualmente, pessoas de todo o mundo vêm para o Egito, em busca de alívio da fome. Este desenvolvimento prepara o terreno para os irmãos de José virem ao Egito e se reunirem com seu irmão.

Notas Adicionais

O centro do drama muda agora para o palácio real. Há poucas possibilidades de identificarmos o rei egípcio; Gênesis satisfaz-se em usar o termo geral faraó. Ele talvez tenha sido um da dinastia dos “hicsos” (c. 1710— 1570 a.C.), mas até nisso estamos distantes da certeza. Desde o último episódio, dois anos haviam passado, e 13 anos, desde que José tinha partido de casa (cf. 37.2; 41.46).

41:1-8. Mais uma vez, os sonhos são um aspecto predominante na história. No contexto egípcio, o rei era obrigado a levar muito a sério o sonho duplo; nem ele nem o leitor têm dúvidas de que os sonhos foram dados por Deus! A sua resposta foi consultar os experts locais, os magos e sábios, mas tudo foi em vão.

41:9-13. O tempo de José na prisão não havia sido um erro no plano divino; finalmente, o chefe dos copeiros lembrou-se da sua obrigação, em um momento muito oportuno. A sua observação acerca das suas faltas (v. 9) provavelmente é uma referência à sua ofensa anterior contra o rei, e não ao seu esquecimento.

41:14-24. José observou a boa etiqueta da corte (pois os costumes egípcios eram significativamente diferentes dos palestinos) e se apresentou. O rei tinha sido levado a pensar que José era um expert na interpretação de sonhos, como se ele tivera um treinamento superior ao de todos os magos egípcios; mas José respondeu de forma categórica que não tinha esse tipo de habilidade (v. 16). O texto na verdade promove a inspiração “profética”, i.e., revelação direta de Deus, e de forma sutil critica todo o mecanismo da interpretação de sonhos da época. O rei fez um resumo dos sonhos; ele era um homem mais generoso e mais razoável do que o Nabucodonosor de Dn 2.

41:25-36. José é capacitado para interpretar os sonhos; Deus havia determinado o curso dos eventos do futuro imediato (v. 32) e tinha graciosamente revelado as suas intenções (Deus mostrou) ao faraó (v. 28). Aqui é apresentada uma nova dimensão dessas predições: os sonhos de José (cap. 37) não tinham nem buscado nem exigido cooperação humana alguma; os sonhos dos oficiais reais (cap. 40) não haviam deixado abertura para intervenção humana; mas a perspectiva de sete anos de prosperidade permitiu que fossem dados passos para aliviar as dificuldades da fome que estava por vir. Parece provável que os v. 32-36 apresentem os resultados não de revelação divina direta, mas da sagacidade pessoal de José (que em si foi dada por Deus, sem dúvida). O v. 34 deixa claro que o rei egípcio tinha o controle total sobre as fazendas e os campos do Egito. K. A. Kitchen consegue colocar isso de forma muito apropriada, quando diz: “A política econômica de José [...] simplesmente fez do Egito na prática o que sempre foi na teoria: a terra tornou-se propriedade do faraó, e os habitantes, seus arrendatários” (NBD, “José”),

41.37-57 O faraó convenceu-se imediatamente, não duvidando nem da interpretação nem do conselho que havia recebido. Ele prontamente percebeu em José o homem para desempenhar a função proposta. E assim José foi elevado a uma posição de autoridade inferior apenas à do rei (v. 40). O sentido geral está suficientemente claro, embora uma frase no v. 40 seja obscura (todo o meu povo se sujeitará às suas ordens; v. outras versões), e a tradução abram caminho (heb. 'abrek, v. 43; nota de rodapé da NVI: “curvem-se”) é incerta. Os diversos símbolos de posição de autoridade indicados no v. 42 atestam o pano de fundo egípcio genuíno da história de José; ainda existem algumas representações gráficas desses símbolos (v. NBD, fig. 122).

As honras concedidas a José incluíam uma esposa nascida na nobreza (v. 45); Om, a cidade que mais tarde se tornou conhecida como Heliopolis, tinha um papel central na adoração de Rá (ou Rê), o deus-sol, a mais importante das divindades egípcias. O significado de Zafenate-Panéia ainda é questão de debate (v. K. A. Kitchen em NBD, “Zafenate-Panéia”). A frase final do v. 45 refere-se à amplitude da autoridade de José (cf. NEB), ou talvez, o que é menos provável, às viagens que José tinha de fazer (foi percorrer todo o Egito).

 Os v. 46, 47 descrevem a passagem célere do tempo. José fez de tudo para que se aproveitasse ao máximo os sete anos de fartura; na casa dele, os anos foram de grande produção (v. 47), pois lhe nasceram dois filhos. O segundo, Efraim, comemora essa idéia de fecundidade; mas há uma ironia dramática no nome do primeiro filho, Manasses, pois os eventos logo mostrariam que José não havia “esquecido” os seus irmãos (a casa de meu pai, v. 51). O v. 54 introduz uma nova dimensão da fome, pois descobrimos que todas as terras foram afetadas. A fome era muito comum no Antigo Oriente, mas era raro que tanto a Palestina (pois é aí que está o centro das atenções da história) quanto o Egito sofressem ao mesmo tempo. O v. 57 é, no entanto, exageradamente literal na NVI (de toda a terra), pois não devemos supor que o narrador estivesse pensando na China ou em países no outro lado do mundo, mas simplesmente que em toda a região relevante na história as colheitas estavam sendo desastrosamente pobres.

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