Interpretação de Hebreus 12

Hebreus 12

Hebreus 12 se baseia no tema da fé apresentado no capítulo anterior. Encoraja os crentes a perseverarem na sua fé, inspirando-se nos exemplos de fé discutidos em Hebreus 11, e lembra-os da disciplina de Deus como prova do Seu amor e do seu estatuto como Seus filhos. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Hebreus 12:

1. O Chamado à Perseverança: O capítulo começa com uma exortação para os crentes deixarem de lado todo peso e pecado que os atrapalham e correrem a corrida da fé com perseverança. Eles são encorajados a fixar os olhos em Jesus, o autor e consumador da fé, que suportou a cruz pela alegria que lhe estava proposta. A imagem de uma corrida sublinha a necessidade de perseverança e foco na jornada cristã (Hebreus 12:1-2).

2. Perseverar na disciplina de Deus: O autor explica que Deus disciplina Seus filhos como um Pai amoroso. A disciplina é apresentada como evidência do cuidado e preocupação de Deus pelo bem-estar espiritual de Seus filhos. Assim como os pais terrenos disciplinam os seus filhos para o seu bem, Deus disciplina os crentes para a sua santificação e crescimento em santidade (Hebreus 12:3-11).

3. O Propósito da Disciplina: O capítulo destaca que a disciplina de Deus tem como objetivo produzir justiça e paz para aqueles que foram treinados por ela. Os crentes são encorajados a responder à disciplina de Deus com reverência e a lutar pela santidade, reconhecendo que sem santidade ninguém verá o Senhor (Hebreus 12:10-14).

4. A advertência contra a rejeição da graça de Deus: O autor adverte contra se tornar como Esaú, que desprezou seu direito de primogenitura e o vendeu por uma única refeição. O exemplo de Esaú serve como uma história de advertência, ilustrando o perigo de rejeitar a graça de Deus e de trocar bênçãos eternas por prazeres temporários (Hebreus 12:15-17).

5. O Contraste com o Monte Sinai e o Monte Sião: O capítulo traça um contraste entre a terrível experiência dos israelitas no Monte Sinai, marcada por medo e tremor, e a experiência dos crentes no Monte Sião, a Jerusalém celestial. Os crentes são convidados a aproximar-se do Monte Sião com confiança e a adorar a Deus com reverência e temor, pois vieram para a cidade do Deus vivo e para a assembleia dos primogênitos (Hebreus 12:18-24).

6. Um encorajamento final: O capítulo termina com uma exortação final para serem gratos pelo reino que receberam, que não pode ser abalado. Os crentes são encorajados a adorar a Deus com reverência e admiração, sabendo que Ele é um fogo consumidor. Eles são exortados a ouvir a voz de Deus e a não recusar Aquele que fala desde o céu (Hebreus 12:25-29).

Em Hebreus 12, o autor enfatiza a importância da perseverança na jornada cristã, inspirando-se nos exemplos de fé discutidos em Hebreus 11. Os crentes são encorajados a perseverar, fixando os olhos em Jesus, e a ver a disciplina de Deus como evidência do Seu amor. e cuidar de seu crescimento espiritual. O capítulo adverte contra a rejeição da graça de Deus e enfatiza o contraste entre o medo do Monte Sinai e a confiança de se aproximar do Monte Sião. Em última análise, Hebreus 12 sublinha o significado da fé, perseverança e reverência na vida de um crente e a importância de responder à disciplina de Deus com humildade e obediência.

Interpretação

12:1, 2 A exortação toma a ser renovada com vigor por causa dos exemplos apresentados no capítulo anterior. Portanto inclui todos os heróis do capítulo 11 que, junto conosco, serão aperfeiçoados. Eles são as testemunhas, que, como os espectadores de uma grande arena, observam o nosso progresso na carreira da vida da fé. Corramos com perseverança (Davidson, Epistle to the Hebrews, pág. 232) une as exortações à corrida e à perseverança, à luz do exemplo daqueles que já correram esta corrida fielmente. De todo peso. O supérfluo e desnecessário que poderia atrapalhar deve ser deixado de lado. Cada indivíduo deve decidir o que é supérfluo. Mas o que é pecado declarado não dá lugar à escolha individual; deve ser deixado de lado imediatamente após reconhecido, quando sai do seu esconderijo para agarrar (euperistatos, "emboscar, rodear, apanhar na armadilha") os incautos. Este tipo de pecado impediria a nossa carreira, ou nos faria correr mais devagar; portanto, fora com ele. Olhando firmemente para... Jesus. Uma referência ao exemplo supremo ou extremo à nossa disposição. O que Ele fez? Suportou. Nisto Ele é o líder ou autor, e aperfeiçoador ou consumador da fé. Nas passagens seguintes amplia-se este conceito. Nelas se apresenta o exemplo da firmeza paciente à qual cada crente é convocado – a do próprio Cristo (12:1). A recompensa da paciência de Cristo é a posição de autoridade e Sua ocupação ali. Nesta posição Sua alegria é completa, e assim também a nossa alegria será completa quando estivermos em Sua presença diante de Deus. À direita de Deus, Cristo realiza todas as funções de governo, de sumo sacerdote, e advogado, embora alcançasse esse lugar mediante sofrimento e paciência, isto é, o caminho da cruz.

12:3, 4 Considerai (analogizomai, “comparem-se com”, “reflitam”) aquele que suportou. Uma ampliação do versículo 2. Oposição (antilogia) é um argumento contrário. Cristo foi literalmente uma contradição para os seus inimigos, que expressaram-se em ódio declarado e hostilidade. Para que não vos fatigueis, desmaiando em vossas almas, a melhor tradução do texto. (Veja CGT, pág. 154). A primeira classe sugere um súbito colapso na paciência, e a segunda um relaxamento mais gradual da vigilância.

Ainda não tendes resistido até ao sangue. Eles ainda não tinham experimentado toda a extensão da luta. Ainda não houvera martírio; nenhuma medida extrema, tal como indiscriminada tomada de vida, fora usada contra eles. Finalmente, deviam se lembrar que o pecado é o antagonista. Deviam continuar lutando contra o pecado, particularmente o pecado da incredulidade, que destrói a fé.

12:5-9 O escritor usa Pv. 3:11 e segs. para lembrar os leitores-ouvintes de que o castigo é uma parte do relacionamento que implica em amor, e ele também descreve este relacionamento por meio da analogia do pai e do filho. A exortação começa no fim da citação. Filhos que são dignos da sua filiação devem suportar o castigo. Às vezes não compreendemos o castigo, mas ainda assim temos de aceitá-lo e suportá-lo como parte de nossa educação. Por meio dele somos reconhecidos como filhos verdadeiros, e não filhos espúrios (v. 8) ou bastardos (nothos).

Uma vez que um pai terreno, quando é digno, corrige seus filhos, os filhos espirituais de Deus não deveriam ficar surpreendidos quando seu Pai celestial os castiga. Tal conhecimento ajudará os crentes a ficarem em sujeição ou submissos como verdadeiros filhos.

12:10, 11 A ilustração provoca um contraste. Eles... Deus. Os pais terrenos exercem sua prerrogativa paterna só por um pouco tempo e para fins imediatos, mas Deus tem em vista vidas santas e fins eternos.

Nem na esfera terrena nem na celestial o castigo é coisa agradável no momento em que é recebido, mas os resultados finais mais do que justificam a disciplina. No reino celestial ou espiritual ela produz fruto pacífico da justiça. Portanto, a adversidade e o castigo são uma forma de educação.

12:12-29 A primeira coisa que os crentes devem fazer é deixar de lado a falta de coragem e os queixumes nas circunstâncias adversas. A vida da fé não é fácil, nem fica por isso mais fácil.

12:12, 13 Eles devem aceitar a disciplina da adversidade e serem fortalecidos através dela. Restabelecei as mãos descaídas. Ou, endireitar, fortalecer, como alguém que se toma forte através da dificuldade. Mãos relaxadas e joelhos trôpegos, ou vacilantes, não são a descrição da firme paciência exigida para terminar a carreira. Fortalecendo assim as mãos e os joelhos, qualquer defeito provocado pelo desuso será curado. Aqui há uma possível sugestão de que as juntas que não estão firmemente mantidas no lugar e os músculos que não estão devidamente tensos podem acabar sofrendo deslocamento, ou distensão (ektrape). A verdadeira fortaleza de caráter demonstra-se quando a pessoa concentra suas energias no tempo da adversidade.

12:14, 15 Os relacionamentos humanos melhoram quando se compreende a natureza da adversidade. Segui a paz com todos. Como alguém que busca a harmonia, como alguém que tem um espírito pacífico, e como alguém que deseja a união e a comunhão entre os justos. E a santificação. O termo que cobre ou abrange tudo (hagiasmon, "santificação"). Senhor (kyrion) é mais provável Deus e não Cristo. Certamente uma das provas essenciais da vida nova em Cristo está no modo pelo qual os crentes vivem uns com os outros.

A antítese segue-se. Aqui está alguém que é carente, que fracassa porque dentro dele profundamente enraizada está a raiz de amargura que envenena tudo e todos – muitos sejam contaminados. Esta raiz de amargura é como uma infecção que se espalha por toda a comunidade (hoi polloi) dos crentes. Observe, isto descreve uma interrupção nas relações humanas entre os crentes porque um crente se tornou amargo.

12:16, 17 Esaú serve de exemplo da desesperança de tal condição. Por sua própria escolha tornou-se profano, ou amante das coisas terrenas e sensuais, de modo que perdeu as duas coisas, o direito da primogenitura e a sensibilidade espiritual. Esta última condição, particularmente, é a antítese do padrão apresentado no versículo 14. Esaú trocou a paz e a santidade pelos prazeres terrenos imediatos. Quando Esaú tentou mudar sua condição, descobriu que era impossível. Ainda que a bênção de Deus ou o arrependimento fosse o objeto de suas lágrimas, foi tarde demais. Esaú foi culpado de pecado deliberado, de cujas consequências ele não encontrou libertação. Esta é a tição apresentada aos hebreus que estavam contemplando a possibilidade de praticar um ato de pecado premeditado na forma da apostasia ou volta à tradição de Moisés. Para o escritor a ilustração-advertência parecia óbvia.

12:18-24 A exortação continua com o que Davidson chama de "um grande final ao esforço..., de manter firme sua confissão". O Sinai e o Monte São foram colocados em contraste entre si. O cenário para a concessão da Lei foi 1) um monte aceso em fogo (E.R.C.), envolto em escuridão, trevas, tempestade, e 2) Ao clangor da trombeta e ao som de palavras. Neste cenário Moisés foi tão tomado pela presença de Deus que temeu e tremeu grandemente (cons. Êx. 19:12 e segs. e Dt. 9:19).

Mas (vós) tendes chegado introduz todas as benditas realidades e personagens da nova aliança. O céu foi colocado contra a terra, o fenômeno contra o extra-terreno, a glória de Sinai contra a glória infinitamente maior do caminho aspergido pelo sangue. Sião... à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial... incontáveis hostes de anjos... e igreja dos primogênitos... Deus, o Juiz... justos aperfeiçoados. . . Jesus, o Mediador de Nova Aliança – tudo isto constitui uma lista propositadamente impressionante por causa dos contrastes pretendidos. Novamente, o pensamento está transparente.

Certamente estas maravilhas e bênçãos ultrapassam de longe o alívio temporário a ser ganho mediante o tomo ao Judaísmo para escapar à perseguição. Homens de fé têm esta resplendente esperança sob a nova aliança. Homens de fé já entraram na alegre companhia dos primogênitos e dos justos aperfeiçoados (prototokon e teteleiomenon, "primogênitos e aperfeiçoados", segundo Alf e Arndt. Veja também Davidson, Epistle to the Hebrews, pág. 245-250).

12:25-29 Prestem atenção a Cristo. Não recusem a voz de Cristo falando através do Evangelho. Se incorreram em perigo aqueles que recusaram a voz de Deus no Sinai, quanto maior o perigo que advirá àqueles que recusam ou rejeitam o mensageiro de Deus, o seu próprio Filho (1:2). Esta recusa é parecida com aquela dos homens que foram convidados para a “grande ceia” de Lucas 14:16 onde “todos..., começaram a escusar-se” (paraiteomai). Veja Lc. 14:18, onde foi usada a mesma palavra (Arndt). Passa-se então a descrever o juízo, talvez o último. A terra será sacudida, e a vontade transitória se desvanecerá com ela; só permanecerá o que é eterno e permanente – um reino inabalável. Este reino será dado por Deus, não concebido pelo homem. Participação nele por meio da fé em Cristo deverá resultar em serviço prazenteiro e adoração reverente da parte de todos. A palavra final é novamente de advertência. Porque o nosso Deus é fogo consumidor (cons. Dt. 4:24). O fogo é a forma final de julgamento (Ap. 20:10,14).

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