Interpretação de Hebreus 10

Hebreus 10

Hebreus 10 se baseia nos temas dos capítulos anteriores, enfatizando a finalidade e a suficiência do sacrifício de Cristo e a necessidade de uma fé inabalável Nele. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Hebreus 10:

1. Ineficácia dos sacrifícios da Antiga Aliança: O capítulo começa destacando a inadequação dos sacrifícios da Antiga Aliança para fornecer o perdão completo dos pecados. O autor ressalta que a repetição desses sacrifícios, ano após ano, servia como um lembrete do pecado, mas nunca poderia tirar os pecados (Hebreus 10:1-4).

2. A Disposição de Cristo para Cumprir o Plano de Deus: O autor enfatiza a disposição de Cristo para fazer a vontade de Deus, contrastando Sua perfeita obediência com as limitações dos sacrifícios da Antiga Aliança. Jesus veio para cumprir o plano de Deus e oferecer Seu próprio corpo como sacrifício pelos pecados, uma vez por todas (Hebreus 10:5-10).

3. A Superioridade do Sacrifício de Cristo: O capítulo sublinha a superioridade do sacrifício de Cristo, destacando a sua eficácia e finalidade. Ao contrário dos repetidos sacrifícios de animais da Antiga Aliança, a única oferta de Cristo santifica completamente os crentes. Isto contrasta com os sacrifícios contínuos que nunca poderiam tornar os adoradores perfeitos (Hebreus 10:11-14).

4. A Garantia do Perdão: O autor encoraja os crentes com a certeza de que, através da fé no sacrifício de Cristo, os seus pecados são perdoados e eles podem aproximar-se de Deus com confiança. O sacrifício de Cristo inaugura a Nova Aliança, onde as leis de Deus estão escritas nos corações e mentes dos crentes, levando à transformação genuína (Hebreus 10:15-18).

5. Exortação para perseverar na fé: O capítulo contém uma exortação para nos apegarmos à confissão de esperança sem vacilar. Os crentes são encorajados a considerar como estimular uns aos outros ao amor e às boas obras, reunindo-se para encorajamento e apoio mútuos. A importância da reunião como comunidade de fé é enfatizada (Hebreus 10:19-25).

6. Advertência contra a apostasia: O autor emite uma advertência solene contra o pecado intencional e a apostasia. Aqueles que rejeitam deliberadamente o conhecimento da verdade e espezinham o sacrifício do Filho de Deus podem esperar um julgamento severo. A referência a “uma terrível expectativa de julgamento” sublinha a gravidade de rejeitar a Cristo (Hebreus 10:26-31).

7. Perseverança através da Fé: O capítulo termina com uma exortação para perseverar na fé, lembrando aos leitores a sua resistência passada face à perseguição e ao sofrimento. Eles são encorajados a manter a confiança na promessa de Cristo e a não recuar. A fé é retratada como o meio pelo qual receberão a recompensa prometida (Hebreus 10:32-39).

Em Hebreus 10, o autor enfatiza a finalidade e a suficiência do sacrifício de Cristo, contrastando-o com a inadequação dos sacrifícios da Antiga Aliança. Os crentes são encorajados a manterem firme a sua fé na obra de Cristo e a reunirem-se para encorajamento mútuo. O capítulo também contém uma forte advertência contra a apostasia, destacando a importância de perseverar na fé. Em última análise, Hebreus 10 sublinha o papel central da fé inabalável no sacrifício de Cristo na vida de um crente e a necessidade de perseverar nessa fé, mesmo face a provações e desafios.

Interpretação

10:1-18 Como os pecados podem ser removidos? A velha aliança oferecia um meio para o perdão dos pecados. Era satisfatório? O método funcionava? Estas perguntas formam o alicerce da fase final do argumento.

10:1-4 A velha aliança falhou. Foi simples sombra (skia) das coisas melhores por vir, uma imagem (eikon) do mal. Por causa disto, era fútil, em última análise, pois nunca deu a ninguém maturidade na fé e confiança. Se tivesse produzido crentes perfeitos, não teria sido substituída. O problema do pecado teria sido resolvido. O fato claramente apresentado é que as ofertas anuais e o sangue dos sacrifícios dos animais não podiam tirar o pecado. A palavra vital no versículo 4 é impossível (adynaton). Esta é uma declaração forte, conclusiva e verdadeira.

10:5-10 O Salmo 40:7-9 foi usado aqui tipologicamente. Davi foi citado como tendo falado do Messias e Sua entrada no mundo em forma humana. A vontade de Deus para o Messias foi realizar uma completa expiação do pecado. Isto exigia sacrifício e derramamento de sangue e portanto um corpo preparado de modo que pudesse sofrer. No sofrimento e morte a vontade de Deus foi inteiramente matizada e a segunda ou a melhor aliança foi plenamente estabelecida. Como insultado, os crentes foram mudados porque foram purificados e santificados mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas (v. 10). Por meio desta oferta, foi feita a expiação, o que agradou perfeitamente a um Deus santo.

10:11-13 O triunfo final do Messias vê-se no fato de que Ele não vem repetidamente, nem representa uma redenção incompleta; mas ao oferecer-se a Si mesmo, Cristo assentou-se à destra de Deus. Novamente se faz referência à posição ocupada por Cristo, o lugar de autoridade e Seu serviço sacerdotal. Para os crentes, Ele governa e intercede, dois aspectos do ministério de Cristo continuamente mantido diante dos que eram tentados a apostatar voltando ao Judaísmo, ao mero legalismo e ao ritualismo. O Reino de Cristo tornar-se-á verídico. Enquanto isso, Ele pacientemente aguarda o momento de Seus inimigos serem subjugados. Então não haverá mais oposição a Cristo ou ao Seu governo.

10:14-18 A aliança profetizada por Jeremias foi cumprida. Os crentes em Cristo estão agora aperfeiçoados, purificados, aptos para a comunhão perpétua com Deus. A palavra aperfeiçoou (teteleioken) significa "completou". Isto é, foi alcançado o fim que estava em vista; o crente está preparado para entrar no santuário, e sua esperança terrena está assegurada (cons. EXpGT). Isto significa crescimento e também o gozo dos privilégios.

O escritor torna a citar Jr. 31:33 e segs., para indicar como o coração de um crente está mudado pela fé em Cristo, e como a sua própria natureza se transforma. Jeremias predisse que o Espírito Santo falaria através dele. A remissão dos pecados agora é completa, e o que Jeremias falou em profecia agora é uma realidade. Os pecados já não são mais lembrados e as vidas são inteiramente. transformadas por tudo o que Cristo realizou na morte expiatória. A obra foi realizada.

10:19–13:17 Agora uma exortação conclui os últimos pensamentos do escritor. Esta seção final é uma composição exortatória com todas as ideias centralizadas na palavra – fé. A exortação tem em vista a constância da fé, com advertências colaterais sobre os resultados que devem ser esperados quando a vida da fé é rejeitada ou desprezada. O pensamento da fé completa-se com o epílogo pessoal com o qual a epístola finalmente termina. O pensamento de uma vida de fé ativa é um ponto importante, à volta do qual o escritor ajunta seus argumentos e advertências finais. O pensamento introduzido com aproximemo-nos com sincero coração, em plena certeza de fé permeia tudo o que vem a seguir. Por meio de descrições, advertências, exemplos e outros meios que lhe parecem vir à mente, o escritor expõe o caso claramente em uma frase, em plena certeza de fé.

10:19-25 A vida da fé precisa em primeiro lugar ser compreendida. Se um mestre descobre que a fé de um crente é fraca, então deve falar mais de uma fé ousada que toma os crentes fortes e confiantes. Esta ousadia se encontra na garantia eterna de que Cristo entrou no santuário e na presença de Deus, tomando também possível a cada crente entrar no santuário e na presença de Deus. Se este é o privilégio dos crentes, e é, então os crentes devem aproveitar-se desse privilégio. Devem exercitar a prerrogativa de se aproximarem, porque Cristo, o Filho que está sobre a casa de Deus e é o sumo sacerdote na geração eterna (de Melquisedeque) que tomou-a possível. Nesta expansão de 4:13-16, o escritor nos incentiva a sermos ousados.

10:19 Intrepidez, ou confiança. Por causa de tudo quanto o Senhor Jesus Cristo realizou, temos ousadia. Temos livre acesso pelo sangue de Jesus; o caminho já foi aberto.

10:20, 21 Aqui estão os meios de acesso, pelo novo (prosphaton) e vivo caminho que ele nos consagrou. O véu já não bloqueia mais o acesso a Deus, nem a natureza humana, simbolizada pela referência à carne (sarx). O sofrimento de Cristo na carne removeu esta barreira para sempre. Quando o Seu corpo foi rasgado na cruz, o véu entre Deus e os homens também foi rasgado, dando acesso imediato a Deus. E Cristo é o grande sacerdote, ou grande sumo sacerdote, como em 4:14, matizando o trabalho de um grande sacerdote no santuário.

10:22 Aproximemo-nos, implica na ideia de aproximação de Deus frequente, franca, íntima, sem hesitação, mas sempre com um coração purificado, sincero coração; corações purificados e uma certeza perfeita de que o caminho a Deus está aberto para nós. O coração purificado e a fé perfeita são as ideias predominantes; uma ênfase secundária recai sobre a tríade: coração, corpo e consciência purificados.

10:23 Confissão da esperança. Uma confissão inabalável de fé no Cristo vivo. Deus envolve nossa esperança com Suas próprias promessas, pois quem fez a promessa é fiel. Isto fala, então, de mais uma afirmação baseada sobre fé na fidelidade de Deus.

10:24 Com a certeza vem a preocupação com os outros. Isto se manifesta na prontidão dos crentes em se reunirem (v. 25) e também em sua disposição de dar e receber exortação e instrução úteis. Estimular. Estimular, provocando e encorajando (paroxysmos, paroxysm). Amor e boas obras devem ser despertadas para com os demais crentes.

10:25 Assembleia e comunhão são duas evidências da fé vital. Quando o zelo descai e a fé vacila, o desejo de manter comunhão com outros crentes também enfraquece. O estímulo do versículo 24 se torna possível através da congregação. Quando os cristãos se refinem, eles se exortam mutuamente ao serviço frutífero e à comunhão ininterrupta. O perigo da apostasia está emboscado na falha dos crentes em se reunirem e Se ajudarem mutuamente (parakalountes, “encorajamento mútuo”).

O dia. A mais curta das referências à vinda do Senhor Jesus Cristo. Uma referência direta à Segunda Vinda. A urgência da passagem no que se refere à exortação deve-se à iminência deste Dia de Cristo. Neste ponto, surgem algumas dificuldades em relação à queda de Jerusalém. A primeira referência desta declaração pode ser ao juízo de Jerusalém que era iminente. Mas é evidente que a queda de Jerusalém não poderia cumprir esta promessa inteiramente. Assim a declaração parece pressupor um outro juízo final também.

10:26-39 A exortação à constância continua com uma aplicação ou advertência negativa. Alternativas são descritas em agudo contraste, como por exemplo, fé ou incredulidade, fé e prática ou terrível juízo, aceitação ou rejeição à luz do Calvário.

10:26 Se vivermos deliberadamente em pecado (harmartanonton, “enquanto estivermos pecando voluntariamente”) e conhecimento (epignosis, “pleno conhecimento”) governam esta passagem. Neste caso não há falta de compreensão da verdade, como no caso dos falsos mestres mencionados em II Pe. 2:20, 21, onde a mesma e forte palavra foi duas vezes usadas para conhecimento. O pensamento básico nesta passagem onde o ponto alto é a advertência, é o mesmo de Hb. 6:4-6. Uma rejeição deliberada da cruz por alguém que conhece o caminho, deixa Deus sem alternativa. Quando a misericórdia é rejeitada, o juízo deve cair.

10:27-29 O julgamento é o que vem a seguir. A prática sob a lei mosaica foi citada para estabelecer o contraste. Este julgamento virá sobre os adversários de Deus, e a rejeição do versículo 26 coloca os rejeitadores aparentemente sobre aqueles adversários. Será um julgamento horrível, terrível, porque o sacrifício expiador foi rejeitado.

Segue-se uma acusação tripla: 1) Desrespeito a Cristo, implícito no calcou aos pés o Filho de Deus; 2) rejeição da aliança comprada com sangue, considerando-a sem valor e profana; 3) desprezo da pessoa e obra do Espírito Santo.

10:30, 31 De tal extrema condição não há remédio nem escapatória. Tais pessoas só terão a vingança a sua espera, declara o inspirado escritor, atando Dt. 32:35, 36 como prova. Esta apostasia sem esperança e rejeição extrema e irrevogável só conduz ao mais severo juízo de Deus. O Salmo 135:14 também é citado como prova destas declarações.

10:32-34 Novamente, o escritor traça um contraste. Continuando a exortação, ele descreve a fé e a paciência vigorosa nas provações e dificuldades. Ele faz os crentes se lembrarem de sua fé primitiva e da primeira bênção quando conheceram Cristo. Na alegria dessa recém-descoberta fé eles enfrentaram os sofrimentos, tentações (athlesis, como as lutas de um atleta), vitupérios (E.R.C) e tribulações. O tipo de luta – quer simpatizando com outros sob provação ou sofrendo perda pessoal por Cristo faz pouca diferença. A fé era forte; a aflição era bem recebida, e a confiança em Cristo era firme e constante. Em espetáculo. Eles foram transformados em teatro, colocados em um palco (theatrizomenoi) para que fossem olhados por todos; mas não vacilaram. Encorajando assim os crentes para que se lembrassem dos dias anteriores, o escritor personaliza sua exortação.

10:35-37 Paciência, ou confiança, à luz das coisas relembradas, não deve ser agora esquecida, nem rejeitada; pois esta é uma confiança baseada na certeza, uma ousadia oriunda da fé vital, uma vitória assegurada. E esta paciência é a maior das necessidades. Em vez de retroceder a um caminho mais fácil, os crentes devem manter a fé e a esperança em alto grau, com paciência firme, pois a recompensa é certa. Fazer a vontade de Deus deve ser o desejo que governa seus anseios na terra, para que sua recompensa celeste possa ser mais abençoada (cons. Mt. 7:21). Eles devem ser pacientes, levando o fardo, não se desfazendo dele (hypomenes). E devem se lembrar das palavras de Hc. 2:3, aquele que vem virá, e não tardará.

10:38-39 A fé é a nota principal desta passagem. Aqueles que vivem pela fé e morrem na fé, finalmente se regozijarão na salvação final que está garantida em Cristo. Como Habacuque adverte, os homens não devem retroceder, pois nesse caso Deus está obrigado a agir conforme descrito em Hb. 10:26-31. Verdadeiros crentes não serão acusados desse recuar. Sua fé é daqueles que creem para a conservação da alma. Na sua descrição da fé do verdadeiro crente, o escritor introduziu de maneira calma a fase seguinte de sua exortação.

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