Estudo sobre Hebreus 10:15-18
Estudo sobre Hebreus 10:15-18
O apóstolo já encontra o anúncio na palavra profética do AT de que toda a plenitude da salvação nos foi presenteada em Cristo, de que o sacrifício universalmente satisfatório de Jesus Cristo basta para extinguir a totalidade dos pecados do mundo inteiro, de que com Cristo Deus “nos deu todas as coisas” (Rm 8.32), justificação, santificação e perfeição, perdão dos pecados e força para uma nova vida. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo. Portanto, o que o apóstolo nos está apresentando não é interpretação arbitrária, autoritária do at. O que ele tem a dizer à comunidade acontece sob a direção e o pleno poder conferido pelo Espírito Santo. É o Espírito Santo que já no AT aponta para a glória vindoura da nova aliança. O Espírito Santo não apenas confirma o entendimento e a interpretação bíblica corretos, mas “dá testemunho a nós”. Como em Hb 8.8-12, o apóstolo recorre à promessa da nova aliança em Jr 31.31-34. Contudo, nesta ocasião não o faz para contrapor a nova aliança à antiga, dissolvendo-a desta maneira, mas para evidenciar a eficácia penetrante do sacrifício de Jesus na vida do ser humano redimido. É este o alvo de Deus: pessoas, cuja vida está integralmente devotada a Deus, que cumprem sua vontade de coração. Este alvo, no entanto, também é alcançado somente por um perdão radical por parte de Deus, que começa no cerne da existência humana. Redenção e renovação somente são viáveis com base no perdão de Deus: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades. Perdão total – é este o efeito do sacrifício de Jesus. O que Deus perdoa, ele também esquece (Is 43.25). Considerando que Deus esqueceu o nosso pecado por causa do sacrifício de Jesus, tampouco há necessidade de recordar o pecado (Hb 10.3). Considerando que o perdão através do sangue de Jesus é definitivo, todos os demais sacrifícios tornaram-se obsoletos.
Síntese
Em Hb 10.1-18 o apóstolo nos levou ao ápice de sua mensagem do sumo sacerdócio de Cristo. Tudo o que ele expôs detalhadamente nos capítulos antecedentes, ou também o que ele apenas rapidamente iluminou, agora é resumido nas breves frases do presente trecho: Cristo prestou o sacrifício perfeito e plenamente satisfatório.
Era característica da ordem sacerdotal do AT a repetição dos sacrifícios como expressão de seu insucesso. Não conseguiam concretizar perdão dos pecados, purificação, paz da consciência e perfeição. A lei e seus sacrifícios eram apenas a sombra de uma realidade vindoura de salvação. Jesus Cristo, porém, nos trouxe, com as promessas da nova aliança, os “bens verdadeiros, futuros”, participação na realidade celestial. É característica da ordem de salvação do NT que o sacrifício de Jesus foi único, para que tivesse uma eficácia universalmente abrangente.
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Neste trecho são respondidas duas perguntas essenciais, que queremos trazer à nossa memória com breves palavras:
1. Em que consistiu o sacrifício de Jesus?
a. Jesus Cristo renunciou espontaneamente à sua glória divina (cf. Fp 2.6), veio a este mundo e foi formado um corpo (Hb 10.5). Andou o caminho da mais profunda humilhação.
b. Ele cumpriu com obediência perfeita a vontade de Deus (Hb 10.7,9), a qual incluía tanto a nossa redenção (cf. Mc 10.45) como a superação do diabo (cf. 1Jo 3.8) e a consumação do plano de salvação de Deus. O Filho de Deus ofereceu como sacrifício a sua própria vontade (Hb 5.8,9).
c. Jesus sacrificou sua própria vida sem pecado como expiação perfeita (Hb 10.12; cf. 2Co 5.21; 1Pe 2.24), consumando assim todos os sacrifícios do at (Hb 10.11,18).
2. Que o sacrifício de Jesus nos trouxe?
a. Em virtude da morte sacrificial de Jesus, Deus nos presenteia com perdão integral (Hb 10.11,12). Uma vez que seu sacrifício é suficiente para extinguir os pecados de todo o mundo perdido, não carece de repetição (Hb 9.12,26-28).
b. O sacrifício de Jesus purifica a nossa consciência (Hb 9.14). O sangue de Jesus age como poder espiritual na esfera mental de nossa existência humana, libertando-nos do cerco de uma consciência de pecado que permanentemente nos deprime (Hb 10.2,17). Uma “consciência limpa” nos é concedida.
c. Deste modo o sacrifício de Jesus nos capacita para o serviço a Deus (Hb 9.14). A obediência perfeita na vida de Jesus “… para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10.7), também se torna a motivação básica dos seguidores de Jesus. Assim também a nossa vida torna-se um “sacrifício vivo” (Rm 12.1,2).
d. O sacrifício de Jesus efetua a nossa santificação. O poder do Espírito Santo renova a nossa vida e a transforma (Hb 10.10; 13.12).
e. O sacrifício de Jesus também incluiu o nosso aperfeiçoamento (Hb 10.14), a asserção divina de que o Senhor ressuscitado fará desaguar nossa jornada de fé no alvo da glória eterna.
f. O sacrifício de Jesus nos assegura a herança (Hb 9.15), a comunhão não turbada com nosso Senhor na glória eterna, e chega à coroação na vitória manifesta de Deus sobre todos os seus inimigos (Hb 10.13), na instalação definitiva do reino de Deus.
Propriedade segura da fé no “hoje” e alegre esperança pelo “amanhã”, salvação presente e futura – tudo nos foi presenteado pelo sacrifício de Jesus na cruz.
No tempo de salvação do AT a revelação de Deus havia sido concedida exclusivamente a Israel, em contraposição a todos os demais povos. Esta honra por parte de Deus significou ao mesmo tempo uma sagrada responsabilidade para o povo de Deus. A comunidade do NT, o povo de Deus peregrino da nova aliança, recebeu em Jesus Cristo infinitamente mais que o povo de Israel. Tanto maior é, pois, também a responsabilidade que temos perante Deus, de que lidemos apropriadamente com este bem de salvação que nos foi confiado. Visto que o apóstolo está profundamente tomado por esta verdade, ele agora se volta aos fiéis para estimulá-los para uma nova fidelidade no testemunho, para que permaneçam firmes na fé a se apeguem inabaláveis à esperança.
Índice:
Hebreus 10:15-18