Encarnação, Sofrimento e Morte do Filho de Deus — Hebreus 2:5-18
Encarnação, Sofrimento e Morte do Filho de Deus
(Leia Hebreus 2:5-18)
Neste capítulo o escritor trata de uma dificuldade que seus leitores talvez descobrissem em seu ensino acerca da superioridade de Jesus sobre os anjos, pois às mentes judaicas o lugar dos anjos não era de pequena importância. Para eles era claro que, na ordem presente, os anjos são superiores aos homens. Por exemplo, por ocasião da transmissão da lei, eles eram os medianeiros entre Deus e os homens (v. 2). Ora, se Jesus era homem, e mais ainda, se Ele sofreu e morreu, como se pode dizer que Ele é superior aos anjos na qualidade de mediador (Hb 1.4)? Em resposta, estes versículos indicam primeiramente o fato e a significação de Sua exaltação como homem-vemos... Jesus... coroado (v. 9); note-se o emprego de Seu nome humano desacompanhado de qualificativos. Em segundo lugar, descrevem os propósitos salvadores divinamente ordenados de Sua humilhação anterior, juntamente com sua aptidão moral (para Deus) e com suas conseqüências benéficas (para os homens). Acresce ainda que esses versículos indicam que não apenas Jesus, mas também os homens-por intermédio de Jesus, como seu Sumo Sacerdote e Capitão da salvação - são chamados para herdar um destino de glória e domínio.
Tudo isso havia sido profeticamente antecipado nas Escrituras. No Sl 8 fica claro que, embora o homem, nesta presente ordem mundial, começa sendo feito “por um pouco” inferior aos anjos, o propósito final de Deus é conceder-lhe honra e domínio sobre até mesmo os anjos. Pois Todas as cousas (v. 8) inclui os próprios anjos. Cfr. 1Co 6.3. Essa consumação, como é claro, ainda não foi realizada em toda a sua plenitude (v. 8c). Por conseguinte, ainda deve ser referida como algo futuro; isso será no mundo que há de vir (v. 5); ou seja, na “vindoura ordem mundial” (cfr. Hb 6.5). Ora, o tema do escritor é justamente essa consumação vindoura ou salvação completada, o que também deveria ser o constante objeto da esperança do crente (ver Hb 10.37-39; Hb 11.13-16; Hb 13.14).
Cf. Moisés é Protegido pela Filha de Faraó
Cf. Moisés Mata Egípcio e Foge
Cf. Moisés e a Mensagem de Deus na Sarça
Cf. Moisés Enviado para Libertar Israel
Por outro lado, deve-se perceber na Pessoa de Jesus uma presente realização do destino do homem. Ele, sendo verdadeiro homem, à semelhança dos homens, começou tendo sido feito (por um pouco) menor que os anjos (v. 9). Mas agora foi coroado de glória e de honra (v. 9). Desse modo, vê-se que o Sl 8 é um salmo messiânico. O propósito de Deus relativo ao homem só é cumprido por intermédio daquele Homem, que é Cristo (cfr. Gl 3.16).
Igualmente, em relação ao propósito tencionado de Deus para com os homens, é possível percebermos por que o Filho de Deus foi humilhado até a forma de servo. Pois, sendo homem, Ele foi coroado de glória e de honra somente porque padeceu a morte (v. 9). Por maravilhosa manifestação da graça de Deus, Ele se tornou homem a fim de, em beneficio da humanidade como um todo (isto é, por todo homem), Ele assim pudesse entrar na morte. Realmente, era supremamente conveniente (v. 10), e um ato digno do próprio Deus, que é a causa final e a finalidade final de todas as cousas, que, a fim de conduzir homens pecaminosos à verdadeira glória da humanidade, que haviam perdido irremediavelmente, Deus provesse para os homens um Salvador dessa qualidade. Ao entrar em Sua própria glória por meio de sofrimento Ele abriu o caminho através do qual os "muitos" (cfr. Is 53.12; Mc 10.45) pode agora ser levados a compartilhar da mesma glória humana na qualidade de filhos de Deus e co-herdeiros juntamente com Cristo (cfr. Rm 3.23; Rm 5.2; Rm 8.29-30). O sofrimento da morte experimentado por Jesus, por conseguinte, foi inteiramente necessário para qualificá-lO a funcionar como Salvador dos homens. Autor (v. 10); lit., “líder”. Essa palavra é novamente traduzida como Autor em Hb 12.2.
A obra de nosso Senhor resultou no fato dEle tornar-se o Cabeça de um grupo ou comunidade salva, isto é, aqueles a quem Deus deu a Jesus Cristo, através e por causa do que Ele realizou (cfr. Jo 17.2,6,26). As citações baseadas no Antigo Testamento, em confirmação a esse ponto, são notáveis. A primeira (v. 12) é tirada de Sl 22, um salmo que prevê a cruz. A constituição da congregação ou “igreja” que conta com Cristo em seu meio, a revelar Deus a Seus irmãos, só é possível por causa de Seu sacrifício. As duas outras citações (v. 13) são de Is 8.17-18. Freqüentemente atribuem a primeira a Sl 18.2; mas a Septuaginta de Is 8.17-18 sugere que esta passagem é a fonte de ambas as citações. É um lugar, no Antigo Testamento, onde claramente emerge o pensamento de um remanescente crente ou “igreja”.
Esses filhos eleitos (v. 14) no propósito divino, na qualidade de homens eram participantes “de carne e sangue” e, na qualidade de pecadores, estavam sujeitos à escravidão e ao temor, sujeitados debaixo do diabo e do poder da morte (v. 14-15). Não havia esperança de uma comunidade redimida vir a levantar-se para usufruir do destino que Deus tencionou para o homem, a não ser que essa prisão, efetuada pelo diabo e pelas “portas do inferno” viesse a ser rompida (ver Mt 16.18; Mc 3.26-27; 1Co 15.17-19). E esse rompimento se verificou quando o Filho de Deus se encarnou e entrou na morte, não como vítima indefesa, mas como o grande Vitorioso. (Cfr. Ap 1.18; Rm 14.9).
Essa salvação foi preparada para os homens, e não para os anjos (v. 16). Cristo veio redimir a descendência de Abraão, isto é, os homens de fé (cfr. Gl 3.7,9,29). Note-se que a palavra “socorre” não se refere ao fato dEle ter-se tornado homem, e, sim, à Sua obra de socorro e redenção. Cfr. Jr 31.32, onde a Septuaginta tem a mesma palavra grega que descreve um gracioso “agarrar” a fim de arrebatar alguém do estado de escravidão. Cristo pôde (v. 17-18) socorrê-los plenamente desse modo, somente se entrasse de modo completo, na qualidade de homem autêntico, em sua experiência ou provação humana. O que necessitavam era de alguém que pudesse corrigir suas relações com Deus (v. 17) e ajudá-los a triunfar sobre as continuas tentações da vida (v. 18). Portanto, na qualidade de “Autor da salvação deles” (v. 10), o Filho de Deus se tornou um Sumo Sacerdote que foi fiel no desencargo de Sua obra de propiciação pelos pecados do povo inteiro de Deus, e misericordioso, isto é, compassivo ou pronto para simpatizar com os tentados e para socorrê-los, em vista de Sua experiência pessoal das tentações humanas. Eis porque, portanto, Ele palmilhou a vereda da encarnação, sujeitando-se ao sofrimento e à morte.