Interpretação de 1 Coríntios 1

1 Coríntios 1

1 Coríntios 1 começa com Paulo, o apóstolo, dirigindo-se à igreja de Corinto e cumprimentando-os. Ele os reconhece como santificados em Cristo Jesus e os chama a viver em unidade.

Paulo expressa gratidão pela graça e pelos dons espirituais concedidos aos coríntios, enfatizando que não lhes falta nenhum dom espiritual enquanto esperam pelo retorno de Jesus Cristo.

No entanto, Paulo logo se aprofunda no tratamento das divisões e disputas dentro da igreja de Corinto. Ele menciona que existem facções entre eles, com alguns se alinhando com diferentes líderes, como Paulo, Apolo, Cefas (Pedro) e o próprio Cristo. Paulo salienta que esta divisão é contrária à mensagem do evangelho, pois Cristo deveria ser o foco central, e não os líderes humanos.

Paulo enfatiza a simplicidade e o poder da mensagem da cruz. Ele explica que a mensagem da cruz pode parecer tola para aqueles que estão perecendo, mas para aqueles que creem, é o poder de Deus para a salvação. Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e as coisas fracas para envergonhar os fortes.

Paulo conclui lembrando aos coríntios que seu chamado não se baseia em sua sabedoria, força ou status, mas na graça de Deus. Ele os encoraja a se gloriarem somente no Senhor.

Interpretação

1:1-3 A introdução, formada de saudação e ação de graças, abre o caminho para i discussão a seguir e, no verdadeiro estilo paulino, contém importantes indicações quanto à responsabilidade da carta.

1:1. Chamado apóstolo (gr. um apóstolo por vocação, força do adjetivo verbal) acentua a iniciativa divina na convocação de Paulo para o ofício. Esta frase, com o reforço, pela vontade de Deus, tem a intenção de atingir àqueles em Corinto, que possam ter duvidado do seu direito de falar com autoridade (cons. 9:1). Irmão Sóstenes (lit. o irmão) pode indicar o chefe da sinagoga mencionada em Atos 18:17, mas isto não se pode provar. O artigo definido pode significar nada mais que o fato de ser ele um cristão muito conhecido. Se, no entanto, este é o Sóstenes coríntio da narrativa de Lucas, então o espancamento que recebeu dos gregos foi uma bênção; tornou-se cristão!

1:2 A igreja é a igreja de Deus, não de Cefas, ou Apolo, ou mesmo de Paulo (cons. 1:12). Santificados em Cristo Jesus introduz uma importante doutrina, ainda que muito mal-interpretada. O termo grego hagiazo significa “santificar”, não no sentido de “tornar santo”, mas no sentido de “separar” para posse e uso de Deus (cons. Jo. 17:19). Os cristãos não são sem pecado, ainda que deveriam pecar menos. A santificação bíblica é quádrupla: 1) primária, equivalente à “graça eficaz” da teologia sistemática (cons. lI Ts. 2:13; I Pe. 1:2); 2) posicional, uma posição perfeita na santidade, verdadeira para todos os crentes, desde o momento da conversão (cons. Atos 20:32; 26:18); 3) progressiva, equivalente ao crescimento diário na graça (cons. Jo. 17:17; Ef. 5:26; II Co. 7:1); 4) prospectiva, para final semelhança com Cristo posicional e praticamente (cons. I Ts. 5:23). O uso do particípio perfeito aqui, refere-se à santificação posicional. Agora os crentes são santos, não por canonização humana, mas por operação divina. O alvo de Paulo na carta era despertar a vida prática dos coríntios, para uma conformação mais definida com sua posição em Cristo.

Com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Não estende a saudação a todos os cristãos, mas previne contra a tendência de confinar os ensinamentos apenas a Corinto (cons. I Co. 4:17; 7:17; 11:16; 14:33, 36), uma confirmação adicional da unidade do corpo.

1:3 As já familiares graça e paz referem-se à graça e paz na vida cristã. Não se referem à graça, que introduz um homem nesse tipo de vida, nem à paz que se lhe segue (cons. Jo. 1:16; 14:27).

1:4-9 A ação de graças não é irônica, nem foi dirigida apenas a uma certa parte da assembleia. Muito menos é simplesmente uma tentativa cortês de “ganhar amigos e influenciar pessoas”, embora seja verdade que “a censura fica melhor quando vem depois do louvor” (MNT, pág. 7). É, antes, uma verdadeira estimativa da posição dos coríntios em Cristo, e forma a base para o apelo que Paulo faz em prol da conformidade prática com isto. O apóstolo destaca seus dons de palavra e conhecimento com ênfase especial.

1:4 Graças a meu Deus. Aquele que é o responsável pelos dons espirituais mais tarde mencionados.

1:5 Palavra. Provavelmente inclui mais do que o dom de línguas (cons. 12:8-10, 28-30). Os coríntios tinham uma grande coleção de dons da palavra (veja 14:26).

1:7 O resultado de seu enriquecimento é que de maneira que não nos falte nenhum dom. Enquanto a palavra karisma, traduzida para dom, tem uma grande variedade de significados, aqui provavelmente se refere aos dons espirituais no sentido técnico (cons. 12:1–14:40). Aguardando, uma palavra composta de forte sentido duplo, significando esperar ardentemente ou ansiosamente (Arndt, pág. 82), expressa a atitude dos crentes quando usam os dons no culto a Deus.

1:8 Confirmará foi usada no grego koinê, como termo legal técnico, referindo-se a uma segurança devidamente garantida (ibid, pág, 138).

Eles tinham a garantia divina que compareceriam diante dEle na volta de Cristo. Irrepreensíveis. Literalmente, inacusáveis, ou “incontestáveis” (Leon Morris, The First Epistle of Paul to the Corinthians, pág. 37). “Isto implica não em simples absolvição, mas na ausência de qualquer gravame ou acusação contra uma pessoa” (W.E. Vine, Expository Dictionary of New Testament Words, 1, 131; Rm. 8:33).

1:9 Tudo se baseia no fato de que fiel é Deus. Comunhão tem como seu primeiro impulso o conceito de uma participação em algo, e depois de uma participação comum. Assim, todos os crentes têm uma participação em Cristo e, consequentemente, uma participação de uns com os outros. Esse é o ponto principal sobre o qual Paulo ataca o espírito partidário, o clímax do ataque sendo alcançado em 3:21-23.

1:10-17 A primeira e principal responsabilidade da carta, a dissensão na vai ser agora considerada. O não a abandonará até o momento que escrever as palavras, “Que quereis? Irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?” (4:21). Os versículos introdutórios da passagem (1:10-17) declaram os fatos conforme trazidos pelos servos da casa de Cloe.

1:10 Porém (E.R.C.) (adversativa de “mas”) que introduz o diagnóstico de Paulo. Suas palavras iniciais são um apelo para o bem da união. Sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental. Uma palavra grega versátil, usada com referência ao ajustamento de partes de um instrumento, na colocação dos ossos no lugar feita por um médico, no remendar de redes (Mc. 1:19), como também com referência ao preparo de um navio para uma viagem. Ajustamento tendo em vista a união é o apelo.

1:11 Pois. Introduzindo a razão para o apelo. Contendas. Uma obra da carne (cons. Gl. 5:20), revelando a presença de divisões.

1:12 Refiro-me ao fato. Antes, o que eu quero dizer. O grupo de Apolo parece que era um grupo que preferia um estilo mais polido e retórico do talentoso alexandrino. Existem muitos membros modernos desse tipo de facção, tais como a mulher que confessou: “Eu quase choro, sempre que ouço meu pastor pronunciar essa bendita palavra Mesopotâmia!” O partido de Cefas ao que parece duvidava das credenciais de Paulo, preferindo manter o elo com Jerusalém através de Pedro. Aqueles que eram de Cristo desprezavam qualquer ligação com os outros, formando assim um partido isolado. As palavras que se seguem dão a entender que Paulo desaprovava este grupo (cons. ICC, pág. 12; II Co. 10:7).

1:13 As interrogações apelam para a unidade do corpo de Cristo e para a identificação dos crentes com ele. Barclay comenta sobre a expressão em nome de (lit., dentro do nome) assim: “Dar dinheiro dentro do nome de um homem era pagar algo para seu crédito, para sua posse pessoal. Vender um escravo dentro do nome de um homem era entregar este escravo à posse absoluta e indisputável dele. Quando um soldado jurava lealdade dentro do nome de César; ele pertencia absolutamente ao Imperador” (op. cit., pág. 18).

1:14, 16 Paulo dá graças a Deus pela providência que o levou a batizar tão poucos em Corinto. Está claro que aqui ele não pretende depreciar o batismo; ele apenas o coloca em seu devido lugar, como ato simbólico, que aponta o fato real da identificação com Cristo pela fé. Está claro também que Paulo batizava.

1:17. Porque. A razão que ele deu não enfatiza o batismo. Sua tarefa primária foi a de pregar as boas novas. Teria Paulo pronunciado estas palavras, se o batismo fosse necessário à salvação? (cons. 4:15; 9:1,22; 15:1, 2). Dificilmente. Sua incumbência também não envolvia embelezamento da verdade com palavras floreadas da retórica profissional (cons. ICC, pág. 15), esvaziando assim o Evangelho do seu conteúdo. A tradução seja feita sem nenhum efeito deixa muito a desejar. O verbo kenoo significa “esvaziar”, isto é, despojar de sua substância. O Evangelho não apela para o intelecto do homem, mas aos seus sentimentos de culpa do pecado. A cruz revestida de sabedoria de palavras corrompe este apelo. O Evangelho não deve nunca ser apresentado como um sistema de filosofia humana; deve ser pregado como salvação. Sabedoria de palavra (lit. sabedoria de palavra) marca a transição para a análise de Paulo da causa da dissensão em Corinto, este amor à falsa sabedoria.

1:18-4:5 Em primeiro lugar, eles não entenderam a natureza e o caráter da mensagem cristã, a verdadeira sabedoria (1:18–3:4). Em segundo lugar, seu espírito sectário indica que eles não tinham compreensão real do ministério cristão, sua participação com Deus na propagação da verdade (3:5 - 4:5).

1:18–3:4 Primeiro, o apóstolo mostra que o Evangelho não é uma mensagem para o intelectual (1:18-25). Essa verdade foi amplamente demonstrada pelo fato de que a igreja em Corinto continha poucas pessoas sábias segundo o mundo (1:26-31), e que Paulo não pregara uma mensagem assim quando estivera em Corinto (2:1-5). Então, o apóstolo expõe a verdadeira sabedoria de Deus, destacando seu caráter espiritual (2:6-12), e seu alcance espiritual (2:13-16); e conclui com uma declaração franca, dizendo que a carnalidade é o motivo das divisões(3:1-4).

1:18 Porque (E.R.C.) introduz o motivo porque ele não veio em sabedoria do mundo. Para os que perecem, a cruz deve sempre parecer uma loucura. Pregação (lit. palavra) evidentemente faz contraste com palavra (v. 17, lit., palavra). Paulo considera a cruz como instrumento salvador de Deus. Perdem e salvos (tempos presentes, mais frequentativos do que durativos) descrevem a corrente de perdidos caindo na eternidade sem Cristo, e o número menor, mas ainda constante, da corrente dos salvos entrando pela porta da comunhão eterna com Cristo.

1:19, 20. Pois está escrito. Um apelo às Escrituras para apoio. Boa prática paulina (cons. Is. 29:14; 19:12; 33:18). As palavras são uma denúncia divina da política dos “sábios” em Judá, que procuraram uma aliança com o Egito quando foram ameaçados por Senaqueribe.

1:21 Aprouve é a mais do que uma declaração de boa-vontade; refere-se ao alegre propósito e plano divino (cons. Ef. 1:5). Pregação refere-se ao conteúdo da proclamação não ao método de livramento (cons. I Co. 2:4); ela é a mensagem (E.R.C., pregação) que salva, a mensagem destinada àqueles que simplesmente creem (crentes).

1:22-25 Paradoxalmente Paulo proclama que os chamados (cons. v. 2) obtiveram o que os judeus, que buscavam sinais e os gregos, que amavam a sabedoria (v. 22), ou os gentios (v. 23; a E.R.C, diz gregos novamente, mas a confirmação é fraca) procuravam, o poder de Deus, e sabedoria de Deus. Cristo crucificado é o segredo. Judeus e gregos não reconhecem o seu pecado. O Cristo crucificado o expõe; portanto, Ele é o poder e a sabedoria de Deus. O uso da palavra crucificado sem o artigo, enfatiza fortemente o caráter no qual Paulo pregou Cristo, como crucificado (cons. 2:2; Gl. 3:1). Um Cristo sem uma cruz não salvaria.

1:26 Porque (E.R.C.) introduz o “argumentum ad hominem irrespondível” (ICC, pág. 24). “Pois olhem para suas próprias fileiras, meus irmãos”, como traduziu Moffatt (MNT, pág. 19). Um lançar de olhos para a sua própria igreja comprovada o ponto defendido por Paulo, pois ali não eram muitos os sábios e os poderosos. Vocação continua enfatizando a iniciativa de Deus na salvação do homem. Na tradição paulina encaixara-se as formosas últimas palavras de John Allen do Exército da Salvação: “Eu mereço o inferno; eu devia estar no inferno; mas Deus interferiu!”

1:27, 28 O triplo Deus escolheu continua com a ênfase.

1:29 O propósito da metodologia divina foi negativamente apresentada aqui e positivamente no último versículo do capítulo. Como Bengel disse certa vez, “Não se glorie diante dEle, mas nEle”. Jonas estava absolutamente certo quando disse “Ao Senhor pertence a salvação” (Jn. 2:9; cons. Jr. 9:23, 24).

1:30 Mas introduz o bendito contraste. DEle e não da sabedoria eram os coríntios, em Cristo Jesus. Eis aí o único alicerce sólido para se gloriar. Devido à construção da sentença grega, está claro que sabedoria é a palavra dominante, e que as palavras justiça, santificação e redenção amplia o significado de sabedoria. A sabedoria, aqui, portanto, não é a sabedoria prática, mas a sabedoria posicional, o plano de Deus para nossa completa salvação. A justiça é argumentativa, a justiça que nos foi dada na justificação, ou aquela que Paulo expõe em Rm. 1:1–5:21. A santificação foi usada em seu sentido imediato e completo (cons. I Co. 1:2). A justiça capacita-nos a comparecermos diante de Deus no tribunal da justiça divina, enquanto a santificação equipa-nos a servi-Lo no templo do serviço divino. É o que Paulo esboça em Rm. 6:1–8:17. A redenção, à vista da ordem das palavras, é provavelmente a redenção final do corpo (cons. Rm. 8:23), aquela de que se ocupou o apóstolo em Rm. 8:18-39. 31. Para que. O alvo desta obra de Deus é o de glorificá-Lo na graça, um propósito que foi gloriosamente alcançado. Pois os que são sábios de conformidade com este mundo foram reduzidos a nada, e os chamados que creram, desfrutam agora de uma salvação soberanamente concedida suficiente para todas as exigências do tempo e da eternidade.

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