Estudo sobre 1 Coríntios 1:10

Estudo sobre 1 Coríntios 1:10



Os problemas que Paulo via em Corinto não diminuíram sua gratidão; mas sua sincera gratidão por tudo o que a igreja havia recebido de Deus tampouco impedia a visão clara para as graves distorções na vida da igreja dos coríntios. Pelo contrário! Quanto mais a igreja recebera de Deus, tanto mais dolorosos eram todos os males que ameaçavam tornar essa riqueza ineficaz.27

Como a carta mostra na sequência (1Co 1.5,9; 7.1,25; 8.1; 12.1), por meio dos três emissários, Estéfanas, Fortunato e Acaico (1Co 16.17), a igreja havia levado a seu apóstolo uma série de perguntas, pedindo que se posicionasse em relação a elas. Porém Paulo não as aborda de imediato. Está preocupado com notícias sobre os coríntios que recebera independentemente dessa delegação oficial, através do pessoal de Cloe e talvez apenas naquela hora. A unidade da igreja estava ameaçada. É sobre isso que ele precisa falar primeiro.

“Mas eu vos exorto, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” [TEB]. Paulo precisa tocar em feridas abertas da vida da igreja e sabe quanta sensibilidade estará ferindo. Por essa razão ele declara à igreja que ele não o faz a partir de si mesmo, não a partir de pensamentos e sentimentos pessoais. O próprio Jesus o insta a agir assim. Pois o “Senhor Jesus Cristo”, mencionado em cada frase no intróito da carta, é o fundamento inabalável da unidade da igreja e deseja a unidade dela. Qualquer cisão numa igreja “esfacelaria” este fundamento e ao mesmo tempo refutaria o seu “nome” (v. 13). Nas exposições subseqüentes Paulo mostrará aos coríntios com vigor e profundidade o quanto esse Senhor e seu “nome”, ou seja, a vigência de seu ser e de sua vontade, sobretudo de sua cruz, estão em jogo em face diante de todos os males em Corinto.


Paulo exorta para “que não haja entre vós divisões”. Essas divisões revelam-se no falar. Por isso Paulo se empenha para “que faleis todos a mesma coisa”. Naturalmente isso não significa uma monotonia enfadonha ou uma uniformização artificial. Para Paulo, um defensor da liberdade e da autenticidade, isso seria absolutamente impensável. Contudo, os coríntios podem e devem ter “a mesma disposição mental” e “o mesmo parecer”, ou seja, a concordância interior a despeito da grande diversidade nos jeitos pessoais e nas respectivas experiências de vida. Essa unidade séria se expressa no fato de que a palavra infinitamente rica e viva continua sendo “a mesma” em todos.28 Desse modo uma igreja estará “inteiramente consertada” [tradução do autor], “colocada na devida condição”. Uma igreja em que as opiniões mais diversas ressoam da maneira mais confusa, na qual predomina uma mentalidade inteiramente diferente, não está “na devida condição”, e por essa razão tampouco está em condições de cumprir sua incumbência.29

É plausível que nessa exortação Paulo já tivesse em mente aquilo que mais tarde seria abordado detalhadamente com os coríntios. Nessas questões concretas da vida da igreja é decisivo que todos os membros da igreja “falem a mesma coisa”, assumam a mesma atitude, tomem a mesma decisão e por isso também ajam do mesmo modo. Todos deveriam rejeitar os processos perante juízes seculares (1Co 6.1-11), viver uma vida pura (1Co 6.12-20), concordar nas questões matrimoniais (1Co 7), permanecer longe das refeições do templo (1Co 8 e 10), avaliar os dons espirituais sob o aspecto da edificação da igreja (1Co 12 e 14), reconhecer no amor o caminho mais sublime (1Co 13) e ter plena clareza e certeza na questão da ressurreição (1Co 15). Tão concreto era o desejo insistente de Paulo de “que faleis todos a mesma coisa”!



Notas:
27 Repetidamente também nós teremos de aprender a sempre ter em mente, em vista da igreja e dos cristãos individualmente (como também em vista de nós mesmos), a alegre gratidão e a visão clara de erros e pecados, sem que um aspecto prejudique ou inviabilize o outro.

28 Temos essa experiência, p. ex., em conferências abençoadas, em que cada orador fala conforme sua originalidade, de maneira tão alentadoramente diferente, e nas quais apesar disso “todos falam a mesma coisa”.

29 Como as congregações e igrejas do Protestantismo se tornaram fracas e ineficientes quando aceitaram ser auditório para as diferentes opiniões! Como ainda hoje é grande essa dificuldade!