Estudo sobre 1 Coríntios 1:30-31

Estudo sobre 1 Coríntios 1:30-31


As pessoas da igreja em Corinto, porém, ouviram o chamado de Deus que os escolheu. Seguiram-lhe quando passaram a crer no Messias crucificado e se deixaram salvar da perdição. Agora se afirma sobre elas: “A partir de Deus estais em Cristo Jesus”[tradução do autor]. Eles, os “que não são”, agora “são” algo, mas obviamente não em si mesmos, apenas “em Cristo Jesus”. “Estar em Cristo Jesus” é a única existência verdadeira que os “nadas” podem ter. Eles a têm “a partir de Deus”, do Deus maravilhoso, que “chama à existência as coisas que não existem” (Rm 4.17), e que criou do nada todo o imenso mundo. Neles aconteceu a nova criação (2Co 5.17). Nessa cidade portuária rica, próspera e cheia de vícios eles, os tolos, os fracos, os não-nobres, os desprezados,59 os “nadas” são agora a igreja do Deus vivo, os herdeiros da glória eterna. Em si mesmos não são nada e não têm nada a exibir. Porém estão “em Cristo Jesus”. Ele é seu verdadeiro espaço de vida, seu elemento vital, e ele mesmo é, a partir de Deus, a “sabedoria para nós”, sim, também “a justiça e santificação e redenção”.

Logo são “loucos, não-nobres, desprezados” de fato apenas quando vistos na perspectiva do “mundo”. “Em Jesus” e “a partir de Deus”, porém, são verdadeiramente sábios, fortes, nobres e valorizados. Não são assim somente numa avaliação amistosa que recebem de Deus, mas numa realidade que já se mostra agora em sua vida. É uma circunstância maravilhosa, repetidamente verificável, que em Jesus as pessoas humildes, que no mundo não são nada importantes, possuem uma admirável “sabedoria” e em seu conhecimento de Deus superam os maiores pensadores da humanidade.

Contudo, essa “sabedoria”, um conhecimento veraz do Deus vivo, não é coisa intelectual, mas abrange e determina o ser humano todo. Por essa razão Paulo acrescenta de imediato “justiça” e “santificação” a título de explicação para a “sabedoria”. O Senhor crucificado, que carregou nossa culpa, nos concede a justiça, sim, ainda mais, ele mesmo é nossa “justiça” perante Deus. Por isso possuímos de forma tão inatacável e segura a justiça, esse fundamento necessário sempre que estamos perante Deus, oramos a ele, contamos com Deus – porque não a temos em nós mesmos mas no próprio Jesus. Jesus, no entanto, também é nossa “santificação” ou, como também podemos traduzir, “nossa santidade”. Ouvimo-lo já no v. 2: Somos “santificados em Cristo Jesus”. Também nossa santificação e seu resultado, a santidade, não são realização nossa. Se assim fosse, como seria precária! Agora, porém, estamos incessantemente na santificação, desde que estejamos incessantemente em Cristo Jesus. Por isso o v. 30 é uma importante base para uma doutrina realmente “evangélica” da santificação. Nele, como em Rm 6, ela não representa uma nova “lei”, mas a própria pessoa de Jesus e nossa ligação com ele, sobre as quais se alicerça a possibilidade e realidade de uma nova vida.


Contudo Jesus também é nossa “redenção”. Jesus esmagou a cabeça da serpente e anulou o poder da morte. O triunfo dele é nosso, porque é quando estamos “nele”. Já agora Jesus é manifesto de múltiplas maneiras como nossa “redenção”. Quanta redenção, quanta liberdade e quanta vitória encontram-se na vida de cada cristão. Obviamente também ainda somos pessoas que “aguardam” (v. 7). Contudo a nova “revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 7) mostrará como realidade visível em nós e em tudo que estaremos totalmente justos, totalmente santos, totalmente redimidos de toda perdição como “irrepreensíveis” (v. 8) diante dele.

Quem compreendeu essa verdade não pode silenciar, tem de cantar60 e anunciá-lo, tem de ser uma pessoa que “glorifica”. Não existe verdadeira vida de fé sem “glorificar”.61 Não podemos permanecer calados sobre o que Deus nos outorgou e sobre seu terno milagre, não podemos falar disso com requintada discrição. Essas infinitas glórias impelem a “glorificar”. Contudo esse louvor é algo completamente diferente do que o “gloriar-se” da carne. Aqui se cumpriu a palavra que Deus disse e escreveu no passado por meio de Jeremias (Jr 9.24): “Aquele que se gloria, glorie-se do Senhor.” Agora unicamente Deus é grande! Agora foi restabelecida a condição certa, inicial, em que Deus está no centro, o nome de Deus ressoa, Deus é glorificado como Deus e agradecemos a ele, em que Deus já começa a se tornar “tudo em todos” (1Co 15.28). Isso, porém, é realização unicamente das “coisas loucas de Deus” e das “coisas fracas de Deus” pela “palavra da cruz”.


Notas:
59 Com uma bela sensibilidade movida pelo Espírito Santo, Paulo usou a forma neutra “as coisas” loucas, fracas etc., para não designar os membros da igreja de “fracos” e “tolos”, ferindo-os assim.

60 J. H. Schröder [1667-1699] usou e interpretou esse v. 30 de forma viva em seu conhecido hino “Uma coisa só importa, uma só, Deus e Senhor…” [HPD 171].

61 Por isso todas as épocas de vitalidade do cristianismo, sobretudo todas as épocas de avivamento, foram tempos de louvor e cântico. Um cristianismo mudo e monótono trai sua morte interior.